Sobre pérolas e porcos: do que foi a Veja, pouco sobrou, quase nada
18/10/2019 às 09:48 Ler na área do assinanteA revista, que já vinha capengando sob a direção de André Petry, socialista demitido no início do ano, piorou consideravelmente com Maurício Lima, como diretor de Redação.
Petry foi demitido por Fábio Carvalho, novo dono da Editora Abril a partir de maio de 2019, quando assumiu a empresa em recuperação judicial.
Carvalho, amigo do banqueiro Andre Esteves, dono do Banco Pactual, o maior credor da Editora, colocou Maurício Lima como diretor do semanário.
Empresário conhecido, ao que parece tem um objetivo claro: vender notícia como se fosse refrigerante ou banana e assim transformar a falida editora - e seu investimento - em algo rentável.
O que, evidentemente, é algo diferente de fazer jornalismo.
Quem faz jornalismo de verdade são profissionais de respeito como José Roberto Guzzo.
Um mestre, dono de um estilo peculiar e crítico, Guzzo inexplicavelmente continuava na revista, uma pérola no mar de mediocridade e informações enviesadas em que se transformou o panfleto.
Isso durou até terça-feira (15), quando Guzzo foi finalmente demitido, depois de trabalhar na revista desde 1968.
O motivo: sua última matéria, onde critica o STF certeiramente.
Guzzo, jornalista brilhante, destoava nitidamente em qualidade e seriedade do resto da revista, uma colagem mal feita de textos e matérias pró esquerda.
Assim, sua saída não é inesperada.
Guzzo, como se dizia em tempos antigos, atirava pérolas aos porcos.
Houve época, lembro bem, em que eu ainda comprava a Veja apenas para ler a coluna de Diogo Mainardi.
E mais nada.
Assim como hoje leitores compravam o panfleto graças a Guzzo.
A reação está aí, nas redes, muita gente cancelando assinatura após a notícia de sua demissão.
De Guzzo, ao se despedir da Veja:
“Ouvimos, desde crianças, que não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe.
Espero que esta coluna tenha sido um bem que não durou, e não um mal que enfim acabou.
Muito obrigado”
Certamente, não há o que lamentar.
Guzzo é um dos jornalistas mais respeitados do país e não lhe faltará espaço.
A revista, no caminho inverso, vai de mal a pior, chafurdando no jornalismo barato e perdendo leitores que realmente fazem a diferença.
Se Carvalho, o empresário, queria fazer o semanário se levantar, está se dando mal.
Do passado de jornalismo de qualidade, resta muito pouco ou quase nada.
Permanece apenas Augusto Nunes, outro grande jornalista.
E não se sabe até quando.
Contratado agora pela Record TV, Nunes está entusiasmado.
Dar pérolas aos porcos é um trabalho penoso e inglório.
Guzzo não merecia isso, assim como Nunes.
Parabéns por Guzzo por ter saído, e um eventual parabéns a Nunes se sair.
Não é de empresários que a boa imprensa é feita.
É de verdadeiros jornalistas.
Marco Angeli Full
https://www.marcoangeli.com.br
Artista plástico, publicitário e diretor de criação.