A “virtus” dos antigos romanos e Merval Pereira

25/08/2019 às 19:19 Ler na área do assinante

Realmente, o Presidente da República errou em dizer que o pagamento dos R$ 375.000,00 a Merval Pereira por parte do SENAC por uma palestra foi de uma vez só. Foi em um total de 15, como o jornalista explicou.

Mas e daí? E daí, também, que ele pagou os impostos sobre cada uma das palestras?

O “x” da questão, o busílis, é a relação jornalismo-instituições do “sistema S” (SESI/SENAI/SENAC/SEBRAE, etc), que são financiadas por dinheiro público, retirado da contribuição do INSS incidente sobre a folha de salário das empresas.

Esse é exatamente um dos males do Brasil: isentões perfumados, pertencentes a uma casta intelectual da sociedade, não terem noção da diferença entre “legal” e “moral”, dois valores que não se complementam, e que não estão ligados entre si.

Por isso, por exemplo, que um tipo como Luciano Huck acha-se no direito de criticar gratuitamente o Presidente da República, enquanto não vê problemas em financiar a compra de seu avião com juros subsidiados pelo BNDES, apenas porque esse contrato foi legal, e por aí vai.

Virtude, a “virtus” dos antigos romanos, é um conceito realmente difícil para essa gente compreender: é uma qualidade moral particular, uma capacidade exclusivamente humana, que inclina o homem à prática de fazer o bem, e de (tentar) cometer boas ações, que se aperfeiçoa com o hábito, por parte desse homem.

É, basicamente, a capacidade do homem de saber o que é bom, mal, inútil, para evitar o vergonhoso ou o desonroso.

Pois bem.

Eu diria para Merval Pereira, o respeitado jornalista membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), que virtude é a capacidade de conseguir não cometer um ato que, ainda que seja legal - como no caso a contratação para palestras -, mesmo à primeira vista pode ser imoral, já que essa atividade (palestras por jornalistas) nada tem a ver com a pauta da instituição contratante - SENAC.

Na verdade, o SENAC serve à capacitação de pessoas para o comércio, com o desenvolvimento e organizações para o mundo do trabalho, em ações educacionais e disseminação de conhecimentos. Ele pode ser uma instituição privada, mas é financiado com repasse de dinheiro público.

Finalizando, eu diria para o jornalista em questão que virtude é, principalmente, o cidadão privado ser extremamente criterioso na hora de receber um dinheiro público, ou de origem pública, como o do SENAC.

Guillermo Federico Piacesi Ramos

Advogado e escritor. Autor dos livros “Escritos conservadores” (Ed. Fontenele, 2020) e “O despertar do Brasil Conservador” (Ed. Fontenele, 2021).

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