Delcídio do Amaral: um livro fora das prateleiras (Com áudio)

Ouça na íntegra a gravação da conversa mantida com Delcídio e seus companheiros

27/11/2015 às 18:07 Ler na área do assinante

O senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo no Senado, até ontem um homem de prestígio junto a presidente Dilma, colegas congressistas e, dizia-se, até de Lula, enfrenta agora o seu pior algoz: a própria consciência. Talvez a carreira política prestigiosa se encerre por aqui, embora nestas questões, nada é definitivo; há exemplos em pencas no Brasil.

O seu pecado maior foi escancarar a sua estatura moral. É dessas coisas que todos fazem, mas ninguém descobre, e que quando vêm à luz, mostra a face verdadeira que é diametralmente oposta àquela que se conhecia.

Homem de fino trato, afável, que tratava a todos com extrema lhaneza repentinamente revela um lado obscuro e surpreendente. Parece-me que há poucas pessoas que discordem desses bons predicados, antes das revelações do seu “Eu” interior. Diz um pensamento popular que: “O modo de ser de uma pessoa é tal qual um livro: ‘impressiona pela capa e decepciona pelo conteúdo’”.

O senador não gozava apenas de prestígio no meio político, mas também, entre muitos eleitores brasileiros, ainda que não petistas.

Protagonista de uma carreira brilhante, inclusive no exterior, o senador podia facilmente servir de paradigma para qualquer jovem ambicioso que estivesse iniciando a sua trajetória profissional, mas do herói parece que nada restará.

Preso a pedido da Procuradoria Geral da República, Delcídio é apontado pelo ordenador do Writ como integrante de uma plêiade que articulava usar seus talentos para o cometimento de supostos crimes potencialmente ofensivos e inafiançáveis.

Junto com o advogado que defendia Nestor Cerveró, e auxiliado por um dos seus assessores, tentavam convencer o filho do ex-diretor da Petrobras envolvido pela operação Lava-jato de que eram capazes de tirá-lo do país a fim de livrá-lo do alcance da Justiça.

Antes de conhecer o conteúdo dos depoimentos que fará as autoridades judiciárias, é impróprio afirmar quais crimes supostamente o senador teria cometido juntamente com o seu Chefe de Gabinete, Diogo Ferreira, o dono do banco BTG Pactual, André Esteves e o advogado que defendeu Nestor Cerveró, Edson Ribeiro.

Todos estão presos.

O fato que levou a Procuradoria Geral da República a pedir as prisões dos citados ao Ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, foi, segundo consta, o flagrante preparado e combinado entre o Ministério Público Federal e o Senhor Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, a partir de uma gravação de uma reunião entre eles.

As transcrições da gravação revelam ”indícios” de que Delcídio, com o auxílio dos demais acusados, estava disposto a por em prática um plano de fuga para Nestor Cerveró, provavelmente para a Espanha, com o financiamento da operação e a garantia da mantença da família com a oferta de quantia equivalente a R$ 50 mil mensais. Em troca, Nestor Cerveró não deveria aceitar a oferta de Colaboração Premiada (Delação). E ainda que aceitasse, jamais deveria envolver os nomes de Delcídio do Amaral e do banqueiro André Esteves, poupando-os da possível persecução criminal. Delcídio do Amaral, ainda teria usado como argumentos de convencimento de que teria falado com Ministros do STF e com o vice-presidente da República, Michel Temer, no sentido de lograr êxito num pedido de habeas corpus quando o plano seria colocado em movimento.

Por que Bernardo Cerveró decidiu colaborar com a Justiça?

Bem! Eis aí uma questão de foro íntimo, mas acredita-se que Bernardo teria percebido que a verdadeira intenção de Delcídio era proteger a si próprio, e também André, e que, o advogado Edson Ribeiro traia a relação de defesa de seu pai, mostrando-se mais interessado em proteger os interesses de Delcídio e André, em detrimento de seu cliente, Nestor. Em resumo, é o que se tem por agora. Os detalhes virão forçosamente com o desenvolvimento das investigações.

De todo modo, o que parece estreme de dúvida, é que, Delcídio, Edson, Diogo e André (este último não estava presente à reunião) estavam, supostamente, de modo permanente, com unidade de desígnios, percorrendo um iter criminis engendrado com o claro objetivo de se esquivarem das garras da justiça. Foram apanhados em flagrante delito.

Antes de terminar este artigo tomo conhecimento pelos noticiários em geral que, Delcídio em seu primeiro depoimento ao delegado federal, confirmou ser a sua voz na gravação, que a reunião existiu de fato, e que as suas promessas de ajuda a Nestor Cerveró e família foram motivadas por razões humanitárias. Sua intenção era levar conforto e esperança aos seus familiares.

Muito bem, considerando o que se escuta na gravação, destaco: a sugestão do uso de uma aeronave que tenha autonomia de voo capaz de permitir uma ponte direta com poucas escalas entre Brasil e Espanha, combina com uma demonstração de apoio espiritual e humanístico? Não me parece! É, sim, as escusas apresentadas ao delegado federal, ao final e ao cabo, o sinal da última resistência da “ímpia fraus” na mente do delinquente quando a realidade emerge para o consciente e aponta o abismo.

JM Almeida

Créditos do áudio: Youtube e Estadão

JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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