E o partido do presidente? Bolsonaro sairá do PSL?

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Que o “partido do presidente” mergulhou num mar de intrigas todos nós já percebemos, mas até que ponto isso afasta o presidente da legenda e principalmente, até que ponto isso prejudica o andamento do partido nas próximas eleições municipais?

Primeiro vamos aos fatos; Eduardo Bolsonaro assumiu a liderança do PSL de São Paulo, só isso já deixa evidente o interesse dos Bolsonaro's em permanecer no PSL. E Eduardo ainda prometeu deixar o partido "muito mais Bolsonaro, muito mais de direita, muito mais conservador".

O boato da saída do Clã Bolsonaro surgiu por conta das brigas internas, começando lá no caso Bebianno, onde o presidente exonerou do cargo de Ministro da Secretaria Geral do Governo, o único nome do PSL em cargo de confiança.

Outras crises mais recentes vêm mostrando uma guerra de vaidades entre os possíveis nomes das próximas eleições municipais de São Paulo.

Alexandre Frota disparou contra a família do presidente porque ele quer Joice Hasselmman como candidata à prefeitura de SP, já Eduardo Bolsonaro quer ninguém mais, ninguém menos do que o apresentador DATENA! Não colocariam no partido um candidato com a tarimba de DATENA se tivessem a intenção de sair.

Há também trocas de farpas entre membros do partido, como Joice x Carla Zambelli por conta do COAF; Major Olímpio x Joice por conta dos agentes penitenciários e temos ainda, Janaína Paschoal, disparando contra o PSL por não ter recebido apoio para a presidência da ALESP.

Outra questão que evidencia que o presidente não abandonará a sigla (e que não vingará o sonho de Onyx em fundir PSL e DEM), é a responsabilidade efetiva que Jair Bolsonaro tem com seus eleitores que rechearam as listas de filiações ao partido em todos os municípios.

Busquei dados em algumas cidades de regiões distintas para saber até que ponto esse boato teve efeito de esvaziar a legenda. Pelo visto, nenhum.

Em Balneário Gaivota (SC), o partido mal saiu do papel e já tem centenas de filiações que para minha surpresa, não são de pessoas tentando se candidatar.

"A nossa prefeitura se alterna entre dois partidos, é agora ou nunca que vamos conseguir apresentar uma terceira opção, basta a população querer mudar que conseguiremos", explica um comerciante local.
"Ninguém da minha família vai se candidatar, mas assinamos as fichas do ‘partido do presidente’ e vamos votar para que a mudança chegue até nós", disse a cidadã do município do interior catarinense.

O mesmo engajamento espontâneo com o "partido do presidente" percebi em Primavera do Leste (MT). Conheci o grupo nas manifestações de maio e por lá as reuniões estão adiantadas, inclusive já fundaram o PSL MULHER. Questionei o presidente do partido João Felipe Crespani que resumiu desta forma a sensação que as pessoas têm ao procurar a filiação:

“O cidadão brasileiro encontrou na figura de Jair Bolsonaro um representante de valores que já estavam esquecidos por muitos e sua vitória fez a esperança tomar conta de nossa nação. Nosso papel será levar ao cidadão de Primavera essa esperança através de bons nomes pra nossa política!”

Já fui avisada que alguns municípios tentaram montar o partido, mas por falta de engajamento a sigla desidratou.

“É muito difícil interferir na cultura partidária, na nossa cidade há dois grandes partidos e os pequenos não terão vez, a não ser que já nasçam grandes, ou, que tenham paciência de aguardá-lo se desenvolver naturalmente conquistando uma vaga na Câmara, daqui quatro anos outra e assim por diante”, explicou um dos líderes do PSL de uma cidade do interior do Paraná.

Conclusão, sabemos da força dos partidos tradicionais e também sabemos que as eleições municipais não andam na mesma toada das nacionais, mas o PSL perderia o rótulo de “partido do presidente” caso Bolsonaro saísse. Mas ele não é amador a ponto de começar uma nova sigla, nanica, sem tempo de TV e abrir mão de uma boa base que elegeu.

Hoje o PSL precisa de Jair Bolsonaro, mas na sequência, é Bolsonaro quem precisará do apoio de seus aliados eleitos em todo país. Seja por fidelidade partidária, ou, por interesse político.

O clã Bolsonaro é mais PSL do que nunca.

Foto de Raquel Brugnera

Raquel Brugnera

Pós Graduando em Comunicação Eleitoral, Estratégia e Marketing Político - Universidade Estácio de Sá - RJ.

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