O município de Mariana, em Minas Gerais, tem duas histórias.
A dos tempos coloniais quando era o maior produtor de ouro e, como tal, a primeira capital da então capitania de Minas Gerais. O ouro acabou, o Brasil deixou de ser colônia, a capital do Estado passou a ser Belo Horizonte, depois de ter passado por Ouro Preto.
Com o fim do período aurífero, ainda no seculo XVIII Mariana entrou em declínio e remanesceu como uma das cidades históricas do período dourado,
juntamente com Ouro Preto e ainda Tiradentes e Congonhas. Como tal, passou a ser um polo de atração turística, sua principal base econômica.
A segunda história vem da sua localização no quadrilátero ferrífero, quando a Cia. Belgo Mineira, implanta um projeto de exportação de pelotas, tendo como produtora a Samitri e a mineradora a SAMARCO. Esta passa a explorar a mina de Germano, dentro do Município de Mariana, desenvolvendo a sua "vila operária" no sub-distrito de Bento Ribeiro.
Posteriormente a Cia. Vale do Rio Doce adquire a SAMITRI, passando a ser acionista da SAMARCO, que já tinha uma subsidiária da BHP. Com as reestruturações societárias a SAMARCO passou a ter apenas a Vale e a BHP como sócias, reunindo as duas maiores mineradoras do mundo.
Com a ruptura das barragens de rejeitos, sujeitas a pesadas multas, grandes exigências ambientais e diante de um quadro de excesso de oferta mundial de minério de ferro, dificilmente a SAMARCO retomará a operação da mina. Como resultado, deixará de contribuir com os cofres municipais com os royalties da mineração e dispensará a maior parte ou a totalidade dos seus empregados, buscando fonte alternativa para manter a produção e exportação de pelotas, no complexo portuário-industrial de Ponta do Ubu, no Espirito Santo. Terá ainda o problema de utilização do mineroduto que foi construído para transportar o minério.
Já o Município de Mariana terá que buscar alternativas para sua sustentação econômica e para a sua população que ficará desempregada. Com a perda da fonte de renda, a Prefeitura não terá condições de manter os seus investimentos e terá que reduzir os seus serviços, com impacto sobre a área de educação e saúde. Os impactos indiretos dos gastos dos trabalhadores da mina, afetarão o comércio e os serviços locais.
Mariana sofrerá um processo inevitável de empobrecimento, e terá que buscar alternativas para não se transformar numa cidade e Município fantasmas.
Não poderá contar a curto e médio prazo com a atração de grandes empresas para a instalação de novas fábricas. Terá que buscar saída pela pequenas e médias empresas, com atuação supra-local. Atuar apenas no mercado local, não dará dinamismo suficiente para a sustentação econômica.
Uma parte da população migrará para outros Municípios. Uma parte buscará ocupação em outras mineradoras da região ou mesmo fora dela. O setor está em crise, com as cotações depreciadas, mas a estratégia da Vale está sendo de aumentar a produção para compensar as perdas nos valores unitários. Outra será deslocada pela própria SAMARCO, que provavelmente irá manter as suas demais atividades de produtora e exportadora de pelotas.
Mariana voltará a ser um pequeno município, com população inferior a 50 mil habitantes ou mesmo abaixo de 30 mil habitantes, supridos por uma boa infraestrutura, mas que poderá se deteriorar no tempo, se não for bem mantida. A manutenção deverá consumir todos os recursos da Prefeitura que não terá condições de investir em novas obras.
Uma base demográfica e de renda deverá ser do quadro de trabalhadores aposentados da SAMARCO e de suas antecessoras. Com a drástica redução dos empregados ativos é provável que o quadro de associados do Metabase Mariana, que representa os trabalhadores seja formado predominantemente por aposentados.
Quais serão as oportunidades da pobre Mariana, que já foi muito rica?
A primeira condição é reconhecer a inevitabilidade da pobreza. Mas que a miséria poderá ser evitada.
A segunda é reconhecer a interrupção inevitável do processo de crescimento econômico e de modernização.
A terceira está em identificar as fontes de renda externa que poderão ajudar a sustentar uma dinâmica econômica.
Duas já são identificáveis de pronto, mas outras deverão ser buscadas:
A renda dos inativos (aposentados e pensionistas) pelo INSS, ex empregados da SAMARCO e de fornecedores locais à mineradora;
A renda dos turistas que visitarão Mariana, agora mais conhecida pela tragédia. Entre os que deixarão de ir, com receio de novos acidentes e os novos que irão, esses serão maiores.
O que fazer?
O sindicato dos trabalhadores da SAMARCO e fornecedores locais (Metabase Mariana) seria a principal entidade que associa os detentores dessa massa de renda, estratégica para a sustentação econômica de Mariana.
Como e com quem essa população irá gastar essa renda será fundamental para o futuro econômico de Mariana.
Caso esses inativos mudem de Mariana, em função do seu esvaziamento econômico contribuirão para o seu aprofundamento.
A primeira condição é a permanência dessa população em Mariana, vivendo e gastando a maior parte da sua renda em Mariana.
O natural é que pela idade, grande parte dos gastos seja em cuidados com a saúde, envolvendo medicamentos, consultas médicas e tratamentos.
As farmácias deverão constituir uma das atividades de maior continuidade.
As atividade de maior prevenção com a saúde, poderão ser uma das oportunidades de empreendedorismo.
Além dos cuidados com a saúde os gastos com lazer deverão gerar oportunidades. Também é natural o desejo de viagens, o que significa gastos externos, porém o agenciamento das viagens pode ser local.
Outras oportunidades da economia do ócio poderão ser identificadas.
A ação sucessiva à emergencial
O Metabase Mariana pode fazer uma pesquisa imediata com os seus associados inativos para uma identificação do seu perfil de gastos. Poderá fazer dentro da metodologia da pesquisa de Orçamento Familiar, com anotações de despesas em cadernetas, ou uma pesquisa qualitativa, reunindo o grupo dos aposentados numa oficina de trabalho.
O resultado dessa pesquisa deverá orientar os candidatos ou interessados em empreender micro e pequenos negócios em Mariana.
Jorge Hori
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Jorge Hori
Articulista