Rompimento de barragem de rejeitos em Mariana, parada de produção na ex-Cosipa, com demissões em massa, os principais demandantes do aço em crise: indústria automobilística com sucessivas quedas de produção, construção civil estagnada, construção naval parada. É o inferno astral da cadeia do aço brasileiro. Que acompanha a crise mundial, com oferta muito acima da demanda. A desaceleração da economia chinesa, com a redução dos investimentos em infraestrutura seria a principal responsável pelo desequilíbrio.
Hà cerca de 30 anos atrás os analistas e futurólogos decretaram o fim da era do aço. Esse estava perdendo para os plásticos, para o alumínio, em bens de consumo e se vaticinavam a emergência de novos materiais. A infraestrutura no mundo estava construída e as necessidades seriam de manutenção e restauração, com menor consumo de aço.
O Brasil acreditou nessa balela, suspendeu os investimentos em expansão e promoveu a privatização das suas empresas estatais, com a venda separada de cada uma das suas grandes siderúrgicas. Para o então Governo, a Siderbrás, que reunia todas as empresas, seria grande demais e não despertaria interesse dos investidores privados.
Os asiáticos não acreditaram e continuaram investindo. Os coreanos, com conhecimento do Ocidente. Os chineses desprezados por preconceito.
Os brasileiros estavam equivocados, os asiáticos certos, ou mudaram o curso da história do aço no mundo. Os chineses começaram a ser reconhecidos como realidade quando passaram a ser os maiores importadores de minério de ferro do mundo e deram suporte ao crescimento econômico brasileiro.
Num momento seguinte passaram a ser exportadores de aço para o mundo, inclusive para o Brasil. Acusados de práticas injustas de comércio, como o dumping, mas conquistaram mercado, deslocando o aço brasileiro de alguns mercados no mundo. E vindo concorrer no próprio Brasil, com preços mais baixos inexplicáveis. Ou explicáveis por mitos, como o baixo custo da mão-de-obra. Esse custo é menor, mas não é o fator mais importante das diferenças de preços.
A siderurgia brasileira que tinha se tornado competitiva, em relação à tradicional siderurgia ocidental, a perdeu com a expansão da nova siderurgia asiática. Seguindo os passos dos japoneses.
Concebido para atender ao mercado interno, com exportação apenas de excedentes, a siderurgia brasileira não suportou a abertura da economia.
Com a recessão interna e com baixa competitividade no mercado externo, diante da crise mundial, vem seguindo o rumo de degradação sucessiva.
No mercado mundial das commodities, naturais ou semi-manufaturados, em geral, cartelizados, toda vez que ocorre um desequilíbrio com uma oferta maior que a demanda, gerando uma queda de preços, os lideres aceleram a queda, aumentando a oferta. Provocam quedas maiores para que os menos eficientes saiam do mercado.
Vivemos um momento desses com vários produtos e estratégias diferenciadas. Em minério de ferro, celulose e soja as empresas brasileiras estão entre as mais eficientes e comandam o processo de baixa dos preços. Isso já inviabilizou a continuidade de muitos projetos de expansão da mineração do ferro, inclusive no Brasil.
Em petróleo e siderurgia o Brasil está entre os menos eficientes e dai o agravamento da crise.
Os empresários, com apoio dos analistas, apontam o principal problema. Baixa produtividade, com excesso de mão-de-obra. E indicam a causa: a obrigatoriedade da unifuncionalidade, com restrições à multifuncionalidade.
A multifuncionalidade é percebida pelos trabalhadores como uma forma de exploração do trabalho e de redução dos contingentes. O impacto sobre a produtividade leva ao fechamento de usinas, com a demissão do todo e não de parte.
Para coroar a conjuntura de crise na siderurgia e nos seus setores demandantes, rompe a barragem de rejeitos da SAMARCO liberando uma lama destruidora e contaminante.
O rio de lama que os capixabas e os ambientalistas temem é apenas um córrego contaminado diante do amazônico rio de lama que a corrupção montou e que a Operação Lava-Jato rompeu.
Jorge Hori
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Jorge Hori
Articulista