O crime da Estrada de Alvarenga e a história de impunidade do assassino

10/06/2019 às 20:07 Ler na área do assinante

Rafael Henrique Miguel, 22 anos; Miriam Silva Miguel, 50; e João Alcísio Miguel, 52, deram-se a uma missão no início da tarde de domingo: conversar com a família de Isabela Tibcherani, 18, sobre as sérias intenções de Rafael para com Isabela, pois ambos namoravam há um ano e dois meses e pretendiam formar uma nova família. Miriam e João eram pais de Rafael.

Estavam no portão da casa dela, conversando com a moça e sua mãe, quando apareceu Paulo Cupertino Matias, 48, pai de Isabela. Sem nada dizer, alvejou os três membros da mesma família, mortos brutalmente antes que pudessem fugir. O assassino fugiu em seguida.

Paulo matou três devires, três sonhos, três projetos futuros. Miriam e João, casados, pais de outras duas filhas, se pode ver na foto o exemplo de harmonia familiar. Rafael, ator talentoso, jovem inteligente, amigo querido de muitos.

Tragédia? Sim. Causada por um facínora isolado? Não. Há a história de um país marcado pela impunidade aí. Paulo, além de um pai despótico, incapaz de empatia para com a filha, tinha passagens por furto e roubo. Estava armado ilegalmente (não se grite aqui contra o armamento civil, alguém como ele jamais teria porte legal - se alguém da família de João tivesse arma legal, teria uma chance de reação). Sabia de antemão que cadeia para homicida no Brasil é por pouco tempo.

Talvez seja condenado a uma pena de 60 anos de prisão pelos três homicídios (se considerados todos os agravantes). Por nossa lei, sairá do cárcere daqui a 10 anos e todos nós teremos de conviver com alguém que resolve suas divergências com a morte de quem discorda dele, com alguém que julga válido acabar com os sonhos e o vir a ser de três pessoas.

Não quero que pena sirva para vingança, pois nada trará de volta Rafael, Miriam e João. Nada reparará o trauma de Isabela e das irmãs de Rafael. Quero que criminosos violentos sejam afastados do convívio social o tempo necessário para livrar a todos nós de com eles conviver, sejam afastados para o resto de suas vidas num caso como esse.

Quero que outros indivíduos violentos saibam qual será a consequência de tirar vidas, de destruir devires. A pena não é para o Estado se vingar em nosso nome, é para dar exemplo e desincentivar potenciais criminosos.

Juízes, advogados e congressistas falam em "excesso de encarceramento" para justificar leis tão benéficas a criminosos violentos. Não há excesso de encarceramento no Brasil. Há impunidade a incentivar más ações. Há excesso de violência de parte de facínoras como Paulo Cupertino Matias.

A morte de Rafael, Miriam e João me tocou demais. Também por se tratar de três exemplos positivos de trabalho, família e bons valores. Quem serão as próximas vítimas de facínoras impunes ou com punição insuficiente?

Vamos pressionar, ordeiramente, nossos congressistas a mudar o que pode ser mudado: as leis? Para que elas possam afastar do convívio social gente que mata gente por maldade ou mesquinhez.

Que as terríveis mortes de Rafael, Miriam e João sirvam a nossa reflexão e a uma mudança de atitude. Basta de tolerância a criminosos violentos. Paulo estará nas ruas daqui a 10 anos, talvez antes. Que os próximos assassinos sejam efetivamente afastados do convívio conosco e mais mortes sejam evitadas.

Aurélio Schommer

Membro do Conselho Curador na Fundação Cultural do Estado da Bahia - Funceb e Membro Titular no Conselho Estadual de Cultura da Bahia.

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