O estelionato do PT na educação: "agora pobre pode estudar na universidade"
09/05/2019 às 06:38 Ler na área do assinanteUma objeção feita à reorientação orçamentária pretendida pelo MEC, remanejando verba do ensino superior e concentrando no básico, é que programas como FIES e ProUNI ajudam a qualificar a mão de obra dos mais pobres, abrindo a eles novas perspectivas de trabalho e ascensão social.
Quem fala isso claramente nunca assinou uma carteira de trabalho na vida.
Por aqui nós frequentemente abrimos processo seletivo para auxiliar de escritório e secretaria. As candidatas em geral são egressas da escola pública que estão cursando Administração de Empresas numa universidade de segunda linha através de algum programa de financiamento estudantil. O teste exige apenas uma redação sobre temas contemporâneos e uma prova de múltipla escolha. Nós literalmente exigimos apenas que a candidata saiba se expressar bem na língua falada e escrita, tenha noções de Excel, saiba atender ao telefone e consiga formatar um documento simples no Word.
Eu posso assegurar a vocês: vivemos o mais absoluto apagão de mão de obra.
Jovens no 4º ano de Administração não sabem a diferença entre regime de competência e regime de caixa, não sabem explicar o que é IPCA ou IGP-M, nem conseguem diferenciar pro-labore de dividendos. Não sabem pra que serve a Auto Soma numa planilha do Excel, têm dificuldades com qualquer texto acima de 3 parágrafos (a maioria vence o curso superior sem precisar ler um livro sequer), não conseguem enviar um e-mail de 4 linhas sem assassinar o idioma umas 10 vezes e não sabem sequer o nome do prefeito, porque não se interessam pelo noticiário.
Esses jovens saem do curso com um diploma que lhes garante a titulação e achando que estão prontos para o mercado de trabalho, mas não vão achar um único patrão disposto a lhes pagar um salário mínimo que seja, porque depois de 11 anos de escola pública que não alfabetizou adequadamente nem ensinou as 4 operações fundamentais, e mais 4 ou 5 anos de uma faculdade que vendeu um diploma financiado pelo contribuinte, vão descobrir, da pior maneira possível, que não têm nenhuma habilidade útil a oferecer à sociedade. E eles não vão sequer compreender o porquê, já que foram sendo empurrados de degrau em degrau desse sistema educacional perverso que nunca quis ensinar, e sim produzir números vistosos de redução de evasão escolar ou melhora nos índices de alfabetização.
É nesse momento que "a filha da empregada doméstica" vai se dar conta que a mãe dela tem muito mais trabalho e ganha (muito) mais dinheiro que ela fazendo faxina 4 dias por semana. E que esse papo de "agora pobre pode estudar na universidade" é um ESTELIONATO, um golpe sob medida aplicado por políticos populistas de um lado e empresários donos de conglomerados educacionais de outro, os primeiros instrumentalizando os sonhos de alguns em troca de um punhado de votos e os segundos interessados em utilizar o governo pra meter a mão no bolso do pagador de impostos, todos aplaudidos pela nossa classe falante, os chamados "especialistas", a seu turno parasitando também o dinheiro público desenvolvendo pesquisas inúteis em alguma universidade federal.
O que fizeram com a educação brasileira nos últimos 40 anos é muito pior do que cem bombas de Hiroshima. É uma hecatombe que destruiu as legítimas aspirações de incontáveis gerações de jovens, e jogou o Brasil para a lanterna mundial nos rankings de produtividade. Vamos precisar de 10 ou 15 governos bem intencionados, fazendo a coisa certa ao longo de uns 50 anos, pra COMEÇAR a reverter essa tragédia.
Rafael Rosset
Advogado