A lógica da imprensa e a tentativa de jogar o fuzilamento de uma família na conta do Presidente
14/04/2019 às 05:24 Ler na área do assinanteA partir da segunda metade do Século XX, a imprensa investiu maciçamente na transformação porca do jornalista numa espécie de detetive particular barato: o repórter, em dicotomia, precisa encontrar vítima e culpado, mocinho e bandido, o Bem e o Mal de cada pauta.
Não por acaso, convencionou-se ético ouvir "o outro lado", estabelecendo, portanto, a existência de apenas dois.
Profundidade? Só havendo interesse financeiro do grupo de mídia. Caso contrário, a regra é ser raso. O viés editorial pela superficialidade vem abraçado, agarradinho, ao preconceito consolidado nas redações segundo o qual o Povo Brasileiro, em sua expressiva maioria, sofre de analfabetismo funcional e é incapaz de compreender narrativas mais buriladas.
Água mole em pedra dura...
Agora, inoculado na veia da sociedade o mau hábito de só enxergar dois lados em toda e qualquer pauta, não admira que a imprensa passe a ser pintada como antagonista. Afinal, no universo dos "cidadãos de bem", alguém precisa ser o "malvado", pois não?! Belerofonte e Quimera, já diz o Mito (maiúsculo, por favor!).
É o que acontece quando a chuva extrema é culpa exclusiva do Prefeito; ou quando o desabamento da encosta é culpa do Governador; ou o fuzilamento criminoso de uma família é jogado na conta do Presidente da República.
Lógica matemática: quem vende dois lados acabará num deles.
Hoje, a Imprensa Brasileira é algo entre Odete Roitman e Nazaré Tedesco.(*)
Daqui a pouco passa... ou não.
(*) Nota da Redação: Vilãs de novelas da Rede Globo.
Helder Caldeira
Escritor, Colunista Político, Palestrante e Conferencista
*Autor dos livros “Águas Turvas” e “A 1ª Presidenta”, entre outras obras.