Bial representa bem o senso comum da mídia em entrevista com Olavo (veja o vídeo)
11/04/2019 às 15:02 Ler na área do assinanteFoi boa a entrevista de Olavo de Carvalho a Pedro Bial na Globo. Tirando a descabida equiparação a Jean Wyllys por causa do auto-exílio, de resto, a edição foi honesta.
Foi também simbólica, porque nos anos 90, quando Bial entrevistou Olavo pela primeira vez, ficou contrariado ao ouvir do filósofo que a esquerda estava em franca ascensão. Na época, o senso comum da mídia e de seus ridículos (pra não dizer desonestos) especialistas era que a esquerda estava morta com queda do muro de Berlim.
A interpretação dos inteligentinhos era de que o "capitalismo" havia vencido o comunismo, ignorando o básico: o problema dos comunistas nunca foi o capitalismo, mas a propriedade privada e os meios de produção. O neoliberalistamo, que ascendeu nos anos 90, nada mais foi do que uma forma light de controlar propriedade privada e os meios de produção via ação estatal, ou seja, uma bosta que pouco tem a ver com liberalismo e praticamente nada a ver com conservadorismo.
Agora, mais de 20 anos depois, é interessante ver o mesmo jornalista entrevistando Olavo após outra antiga previsão ter se concretizado: "o primeiro candidato a presidente que apresentar uma pauta verdadeiramente conservadora será eleito".
Entre os pontos abordados, destaco, por opção pessoal, a resposta sobre "doutrinação ideológica", que tem sido alvo do meu interesse nos últimos anos. Para mim é óbvio que grande parte do problema está na seleção dos conteúdos programáticos, em que autores que dão base a um pensamento conservador filosoficamente sofisticado são suprimidos ou sujeitos a abordagens distorcidas e parciais.
Transcrevo aqui trechos com os quais concordo e considero importantes para a compressão do tema:
"O problema não é a doutrinação. O problema é os comunistas não deixarem seus adversários falarem. Eles exercem uma hegemonia e sufocam o diálogo. Se eles fazem a doutrinação deles, mas deixam o outro lado fazer a doutrinação deles por sua vez, dá tudo certo. O que precisa não é a escola sem ideologia: é a escola com todas as ideologias".
"Como é que você estabelece uma hegemonia numa universidade? Através da orientação de teses. Você selecionando as teses que aprova, você assegura que a próxima geração de professores vai ser igualzinha a você. Pega nas universidades brasileiras nos últimos 30 ou 40 anos, e pergunte assim: quantas teses anticomunistas foram aprovadas? A resposta é: nenhuma. O anticomunismo está proibido nas nossas universidades, está proibido na nossa mídia. Não é a pregação comunista, é a supressão do anticomunismo, esse é que é o problema."
Para quem faz juízo sobre Olavo a partir de edições maldosas de vídeos no YouTube ou de trechos de suas aulas destacados do contexto, coloco essa entrevista ao Bial ao lado da que deu ao programa Os Pingos nos Is como as melhores aparições dele na mídia em tempos recentes. Não que possuam grande profundidade, mas são honestas, seja para gostar ou desgostar do entrevistado.