A questão da morte

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Não é estranho morrer. Estranho é esperarmos a morte chegar silente, tocando nossa vida, tragando-a num célere golpe. Talvez que toda esta reflexão nos faça inquirir o que somos, para que somos essencialmente.

Quem de nós não viveu um momento particularmente sofrível, marcado pela angústia de vermos alguém se ir, sem que nada pudéssemos fazer.

O grande e polêmico tema aqui mencionado foi assim descrito por vários nomes imortais, tais como Camões, Tobias Barreto, Castro Alves, que assim definiu a morte: “Morrer é ver extinto dentre as névoas, o fanal que nos guia na tormenta, condenado escutar dobres de sino, voz da morte, que a morte lamenta... Ai! Morrer é trocar astros por círios, leito macio por esquife imundo, trocar beijos de mulher, no visco da larva errante no sepulcro fundo. Ver tudo findo... só na lousa um nome que o viandante a perpassar consome”.

Na visão de quem crer, a morte não é o final de uma existência, talvez uma pausa breve, um hiato forçoso que a vida nos oferece para alcançarmos a compreensão do que efetivamente somos.

A morte é um vale pelo qual haveremos de passar. Na interpretação do salmista Davi, ele escreveu: “ Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”.

Se atentarmos para ar realidade inerte, fria, sem vida certamente estaremos percebendo em face da nossa finitude, a contemplação finita do que somos. Na verdade somos pó e a ele voltaremos, contudo, o grande evento que nos livra do trauma da morte, do aguilhão que nos incita a pensar que tudo jaz, findo, é a convicção de que somos feitos para a eternidade, somos feitos para Deus.

Em um momento de sua vida, o apóstolo Paulo ousou bradar em alta voz: “Infeliz homem eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?” Ele então respondeu: “Graças a Deus por nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo nosso Senhor”.

Certamente, se estamos padecendo a dor, a angústia de termos perdido alguém, haveremos de encontrar forças para suportar a temível realidade que arrebata a cada segundo milhões de pessoas em todo o mundo.

Gostaria de finalizar, afirmando o que o apóstolo Paulo definiu acerca de sua própria vida: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”.

Sinceramente, creio que todos nós não somos feitos para a lágrima, angústia, tristeza, mas para a glória de Deus e isto nos basta. No passado um homem de Deus chamado Habacuque afirmou: “Ainda que a figueira não floresça, não haja fruto na vida, o produto da oliveira minta, nos currais não haja vacas e nem na casa mantimento, todavia, me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação”.

Pensei que em meio ao caos de um instante é possível ainda crer que podemos reconstruir nossas vidas, mercê da graça de Deus. Para isso, é preciso tão somente crer que apesar de tudo, haveremos de transcender o túmulo em radiante vitória, sem o medo de lembrar o peso da morte a nos intimidar.

Na verdade em Cristo, não estamos mortos, estamos Nele vivos por toda eternidade, isto é o suficiente para que olhemos para os céus e pensemos que o nosso socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra e que nada há de nos separar de seu tão grande e infinito amor expressado na cruz por nós.

Tudo o que estou falando, é reflexo de quem já sofreu perdas severas, mas que acima de tudo, entregou tudo nas mãos de Deus. Jó no passado, ao perder tudo, sua família e bens afirmou: “O Senhor deu, o Senhor tomou, bendito seja o nome do Senhor!”. Que assim seja.

Pio Barbosa

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Pio Barbosa Neto

Articulista. Consultor legislativo da Assembleia Legislativa do Ceará

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