Tarso volta a falar sobre Battisti, mas não explica o tratamento dado aos pugilistas cubanos
27/03/2019 às 06:30 Ler na área do assinanteNo jargão jornalístico, ele tentou "arredondar" a declaração desastrada anterior.
Em entrevista ao G1, Tarso disse que teria extraditado Battisti se ele tivesse confessado os assassinatos à época da decisão sobre o asilo. E numa rara concessão ao bom senso, dessa vez o ex-ministro de Lula reconheceu que criminosos não costumam confessar os crimes de que são acusados:
"No nosso caso concreto, nós confiamos na palavra dele para dar o refúgio. É uma norma de princípios do direito penal, seja internacional ou interno: a pessoa não é obrigada a se acusar. Evidentemente, ninguém se acusa"
Claro que poderíamos perguntar retoricamente a Tarso Genro se ele também se fiou na palavra de outros assassinos, de estupradores, de traficantes de drogas e armas cujos processos de extradição passaram pelo ministério da Justiça em sua gestão.
Mas o que eu queria mesmo é que Tarso explicasse seus critérios para deportar dois homens sobre os quais nunca pesou nenhuma suspeita de crime.
Em 2007, os pugilistas cubanos Gillermo Rigondeaux e Erislandy Lara decidiram desertar da delegação cubana durante o Pan-Americano do Rio. A história do esporte olímpico está repleta de casos de atletas que se valem de competições internacionais para escapar de regimes ditatoriais. Quando as defecções acontecem em países democráticos, a regra é, invariavelmente, a concessão de asilo aos atletas.
Mas no democrático Brasil de Lula, as coisas foram diferentes. Rigondeaux e Lara foram localizados em um hotel na cidade de Araruama, Região dos Lagos, e deportados em tempo recorde.
O então delegado da PF Felício Laterça, responsável pela execução da deportação justificou a rapidez: Lara e Rigondeaux estavam sem documentos, vejam só.
Laterça, hoje deputado federal pelo PSL, fez um favor ao chefe e o poupou de ser confrontado com uma verdade nada ficta: o único crime dos atletas cubanos era o de não querer viver em uma ditadura.
No retorno forçado para Cuba, Guilhermo Rigondeaux e Erislandy Lara foram proibidos por Fidel Castro de voltar a lutar pelo país.
Em 2008, Lara fugiu de Cuba para o México numa lancha. De lá seguiu para a Alemanha onde conseguiu asilo.
Em 2009, foi a vez de Rigondeaux seguir para o México e de lá para Miami, onde se refugiou.
Os dois se tornaram campeões mundiais em suas respectivas categorias.
(Texto de Erick Bretas)