Soft Power: Uma nova forma de apresentar o Brasil

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O pensador da Universidade de Harvard Joseph Nye, em seu livro, Soft Power: The Means to Success in World Politics (Soft Power: os meios para o sucesso na política mundial) cunhou o termo Soft Power que em português significa algo como poder brando ou poder suave, o termo é bastante utilizado nas relações internacionais e consiste em descrever a capacidade de um organismo político ou Estado de influenciar outro órgão ou Estado por meio de alguns elementos, entre eles a cultura e a língua.

Para o autor, a capacidade de influenciar o outro está diretamente ligada ao conceito de poder.

“o poder é a capacidade de influenciar os outros para que façam o que você quer. Basicamente, há três maneiras de se fazer isto: uma delas é ameaçá-los com porretes; a segunda é recompensá-los com cenouras; e a terceira é atraí-los ou cooptá-los para que queiram o mesmo que você. Se você conseguir atrair os outros, de modo que queiram o que você quer, vai ter que gastar muito menos em cenouras e porretes”. (Nye, 1990)

Portanto, este terceiro modo é o Soft Power.

O autor demonstra que o sucesso do Soft Power está condicionado a reputação do Estado influenciador frente aos outros atores internacionais. Quer dizer, é necessário que o Estado influenciado tenha alguma admiração pelo Estado influenciador.

O último relatório da The Soft Power 30, A Global Ranking of Soft Power de 2018 mostra que o Brasil estagnou no grau de influência externa, hoje o Brasil é o 29º país, para efeitos de comparação no ano de 2016 Brasil ocupava a 24º posição no quadro geral. Contudo, quando analisamos isoladamente cada indicador que compõe o Soft Power vemos que o Brasil deve ter atuações mais direcionadas em algumas áreas.

No indicador de influência digital que marca o desenvolvimento digital do país estamos ocupando a 28º, no indicador empreendimentos a posição é de 29º, no indicador educação a posição é de 27º, na influência cultural o Brasil se encontra em 17º, no quesito engajamento a posição é de 19º, no indicador de governo o país é 28º, por fim o indicador de pesquisa coloca o Brasil na 23º posição e no geral estamos 29º posição global. Se pensarmos a capacidade cultural atrelada a outros fatores, o papel desempenhado pelo Brasil deixa a desejar. Se comparado aos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) o Brasil está atrás da China 27º e Rússia 28º. Na América latina estamos liderando, entretanto, a Argentina está em 30º, esta posição da Argentina pode ser vista como uma ameaça ao poder de influência do Brasil, se nada for melhorado podemos perde este posto.

Em certa medida o Brasil consegue influenciar seus vizinhos da América Latina, por exemplo: por força de lei, Argentina, Uruguai e Venezuela adotaram o ensino do idioma português nas escolas, contudo, na América Latina o poder de influência do Brasil é muito aquém das suas reais condições culturais e ideológicas.

O relatório A Global Ranking of Soft Power de 2018 mostra que um dos grandes gargalos no desempenho brasileiro é a corrupção. Durante o processo de elaboração dos indicadores de Soft Power, diversas notícias de corrupção do governo Michel Temer foram veiculadas e isto refletiu de maneira significativa na composição final do relatório.

O apontamento feito pelo relatório mostra que o Brasil precisa atuar em duas frentes principais, a primeira é o descredito que a política brasileira tem passado interna e externamente. Neste ponto podemos entender política como sendo as instituições que garante o funcionamento do país, portanto legislativo, executivo e judiciário. O outro vetor citado pelo relatório é a condição econômica do país, neste ponto vemos uma movimentação mais sólida dos responsáveis pelas políticas econômicas.

Se a política não atrapalhar teremos grandes avanços por meio das reformas almejadas para o país, a estruturação econômica passa pela reforma da previdência, que irá atuar de maneira drástica na economia dos gastos públicos e no equilíbrio fiscal. Será necessário, também, uma ampla reforma tributária. Esses elementos mencionados fazem parte da política interna do Brasil, mas se não passarem por melhorias refletem negativamente no Soft Power brasileiro.

Atualmente o Soft Power brasileiro com maior visibilidade externa é a Operação Lava Jato e, isto é natural tendo em vista que um dos maiores gargalos do Brasil é a corrupção, e naturalmente o combate a este mal terá destaque.

A sinalização que a operação que está em vigor há 5 anos no Brasil dá é a de que nós, brasileiros, estamos tentando retomar o caminho do crescimento sólido e robusto, não algo superficial sem base, como ocorrido no governo Lula, marcado por populismo tarifário, desonerações tributárias e expansão dos gastos públicos.

A Lava Jato é um Soft Power que visa mostrar que o Brasil não quer ser visto somente como o país do samba e do futebol, mas sim como um país que está buscando ter ações responsáveis e sérias, mas acima de tudo, mostrar que atos de lesa-pátria não ficarão impunes como outrora.

Existe uma percepção de que as a situação política e econômica do Brasil parou de piorar. No setor econômico, a queda vivida pelo país se estabilizou e isto possibilitou uma retomada gradual da economia. contudo, no âmbito político, que de fato recebe atuação da Operação Lava Jato, as coisas ficaram um pouco mais nebulosas com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de remeter casos de caixa 2 em campanha para a justiça eleitoral. Isto em certa medida, representa um enfraquecimento do nosso maior Soft Power.

A questão central para o Brasil é desenvolver outros mecanismos de Soft Power, tendo em vista que não é possível depender de uma única forma de influência externa. Precisamos construir novas vitrines no exterior que almejem mostrar o Brasil. Vale mencionar que o ministério de relações exteriores por meio do ministro Ernesto Araújo planeja criar um Instituto para a divulgação da cultura brasileira para outros países. A ideia é desenvolver o Soft Power brasileiro pelo mundo. O objetivo é construir uma capacidade de influenciar outros países por meio da inserção da cultura do Brasil. Isso não significa que a intenção desse projeto é subjugar países, pelo contrário, a intenção é mostrar o que de fato é o Brasil para o mundo.

O Brasil tem uma imagem relativamente simplória no exterior, o país do samba, carnaval e futebol, mas isso não é o Brasil verdadeiro. Deste modo é essencial que o mundo nos reconheça pelas nossas virtudes e pela vastidão cultural. A viagem do Presidente Jair Bolsonaro aos Estados Unidos não representa só um estreitamento das relações políticas e comerciais para o Brasil, esta viagem marca o início de um novo modelo de governança e diplomacia para o país. O Brasil, há muito tempo anseia figurar entre as grandes nações do mundo, entretanto o país vem esbarrando nas questões geopolíticas e na carência de apoio internacional, com esta viagem o presidente do Brasil visa angariar mais apoio.

Foto de Calebe Coelho

Calebe Coelho

Professor de sociologia e gestor de políticas públicas. 

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