Sobre Janaína e Rodrigo Maia, a nova e a velha política, o patriotismo e a chantagem
24/03/2019 às 17:11 Ler na área do assinanteJanaína Paschoal, todos a conhecemos.
Brilhante professora de Direito da USP, foi o aríete que demoliu, com a petição de impeachment, o castelo petista, ocupado por corruptos, corruptores e o exemplar único da espécie “mulher sapiens”, uma aberração evolutiva com apenas dois neurônios, um sempre em ‘stand by’. Por isso é odiada por petistas e adjacências. Mas admirada pelos que cultivam a inteligência, a competência, a honestidade e a coragem cívica.
Eu a venero!
São de Janaína algumas frases publicadas hoje pelo Jornal da Cidade Online. Vale a pena lê-las. Volto depois.
Rodrigo Maia também é muito conhecido. Foi reeleito presidente da Câmara dos Deputados num processo de negociação que – tudo lembra – se encaixa nos moldes da velha e indecente política (o termo mais ajustado seria “politicalha”) que tanta vergonha e desgraça trouxe ao País. Ele é, sim, um filhote da “velha política” de que o país tanto luta para se libertar. Até amplas denúncias de corrupção na Lava Jato o colocam como homem da “velha política”.
Vale a pena reproduzir - ao custo de me alongar muito – uma matéria publicada pela Folha de São Paulo Digital de hoje, 24 de março de 2019, sob o título
“Odebrecht revela 'valor do passe' de Rodrigo Maia, o 'Botafogo'”
“Em depoimento, o ex-executivo da Odebrecht Luiz Eduardo da Rocha Soares disse que, em 2014, o pagamento ilícito feito ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), era indicado como o "valor de passe" de "volante" do "Fluminense" em planilha da empresa.
Segundo duas planilhas apresentadas pelo delator, que constam em pedido de abertura de inquérito encaminhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), as analogias futebolísticas eram padronizadas: a posição "volante" identificava o cargo de deputado federal, e o clube, "Fluminense", o Democratas, partido de Maia.
Já o "valor do passe", especificado apenas como "cem", é o dinheiro que a empresa repassou ao parlamentar para a campanha, segundo o executivo.
Rodrigo Maia já havia sido associado a outro time de futebol carioca, o "Botafogo". No depoimento de Soares e também dos delatores Benedicto Jr, João Borba Filho, Cláudio Melo Filho, Carlos José Fadigas de Souza Filho, os executivos afirmam que o pai do presidente da Câmara, o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (DEM-RJ), atendia por "Inca" e "Déspota".
Eles detalharam pagamentos ao deputado federal e seu pai em 2008, 2010, 2013 e 2014. Em 2008, Benedicto Jr., o BJ, Rodrigo Maia solicitou e recebeu R$ 350 mil como ajuda para campanha eleitoral em 2008. Porém, naquele ano, nem o parlamentar nem Cesar Maia foram candidatos a cargos eletivos.
Já em 2010, os delatores apresentaram, segundo o procurador, evidências do pagamento de R$ 400 mil para a campanha de Cesar Maia ao Senado Federal, entre o dia 12 de agosto e 30 de setembro. Cláudio Melo Filho, por sua vez, relatou o pagamento de R$ 100 mil a Rodrigo Maia em 2013.
Segundo o pedido de Janot, Rodrigo Maia "em sua atuação parlamentar, apresentou contrapartida aos pagamentos ilícitos feitos pela Odebrecht". Ele afirma pagamentos feitos aos políticos "tinham sim o caráter de propina" e não eram "mera contribuição irregular de campanha".
Como o ministro Edson Fachin aceitou o pedido de abertura de inquérito da PGR (Procuradoria-Geral da República), o presidente da Câmara e seu pai serão investigados por corrupção ativa, passiva, e lavagem de dinheiro.”
Certamente foi a antecipação dos fatos relatados nesta reportagem – inclusive a aceitação da abertura de inquérito por Fachin - que deixou Rodrigo Maia tão nervoso a ponto de atacar, pela ordem, Moro, Bolsonaro e finalmente, Paulo Guedes, que um dia atrás ele qualificava como uma ilha de competência do atual governo.
Sua ira com o governo e com Moro, em particular, o levou, segundo declarações também publicadas hoje, a retirar da pauta da Câmara o pacote anticorrupção de Moro.
Os corruptos do Brasil, certamente concordam e aplaudem o balofo presidente da Câmara. É o descumprimento cabal de compromissos assumidos com o governo, que apoiou a sua reeleição.
Em perfeito acordo com as minhas suspeitas acima apresentadas o presidente Bolsonaro falou do Chile, onde se encontrava, colocando o dedo na ferida: “Os atritos acontecem no momento, mesmo eu estando fora do Brasil, porque alguns [políticos], não todos, não querem largar a “velha política”.
Bingo, presidente Bolsonaro. Entre aqueles ‘alguns’, eu incluo, sem medo de errar, o balofo Rodrigo Maia, presidente da Câmara do Deputados.
Disse mais o presidente:
“Nunca critiquei [Maia]; eu não sei porque ele, de repente, está se comportando dessa forma agressiva em relação a minha pessoa”
Desculpe, presidente, o senhor sabe, sim, porque ele está se comportando dessa forma agressiva. Aliás, no pronunciamento anterior, o senhor já deu a explicação: é a “velha política”, presidente, o toma-lá-dá-cá, acoplado, entre outras coisas, à Lava Jato. Quando Maia fala em “articulação”, ele quer dizer “conchavo”; talvez um ajuste de conveniências que o deixe mais tranquilo quanto ao futuro próximo.
O senhor está absolutamente certo quando afirma que [os projetos da previdência e anticrime de Moro] foram elaborados por seu governo e que agora é com o Congresso.
Mas, presidente, o uso do cachimbo deixa a boca torta. Cachimbo fumado durante 14 anos pelos corruptos da era petista. Boca torta que o senhor agora corretamente chama, com certo eufemismo gentil, de “velha política”.
Esta boca torta tornou-se uma cultura parlamentar macabra, altamente lesiva ao país. E cultura, presidente, não se muda ‘overnight’ com métodos polidos. Leva tempo para mudar, décadas, mesmo séculos.
E o Brasil não pode esperar.
O Brasil não pode ser refém de um presidente da Câmara encalacrado com a Justiça. O Brasil não pode continuar refém desses parlamentares de boca torta que – ainda acham - o congresso é uma casa de negociatas. Que sem negociatas não tem aprovação de projetos de interesse do Brasil.
Fazer o que então? Retomar os costumes da era petista e “articular”, como pede Maia? Reacender o mensalão e o petrolão para que o parlamento cumpra com seu dever de legislar em favor do País?
Não!
Absolutamente Não!
A Nação brasileira é a matriz originária do Estado e não o contrário.
A Nação brasileira vem antes do Estado e de seus equipamentos estatais, como o Judiciário, o Congresso, o Executivo.
E a Nação, pelas suas mais respeitadas instituições e valores, não se conformará e não ficará inerte ante - vá lá, a palavra justa – a CHANTAGEM de quem se arvore dono dela própria - a Nação - e senhor do seu destino.
Para concluir:
Ao contrário de Janaína, que venero, detesto Rodrigo Maia.
Detesto este cara desde a noite em que a Nação foi tomada de surpresa com a queda do avião que carregava o time da Chapecoense. Chocada e aturdida, a Nação procurava inteirar-se das notícias ao longo da madrugada da fatídica noite, enquanto Rodrigo Maia, no mais explícito desprezo e desrespeito pelos brasileiros, oportunisticamente, sorrateiramente presidia a Câmara para destruir - como de fato destruiu - o projeto popular das dez medidas de combate à corrupção.
Não esperava deste indivíduo, nada diferente do que ele apronta agora, contra ministros da maior qualidade intelectual e moral, contra um presidente que luta para varrer do país uma cultura nojenta de “articulação”, cujo nome correto é CHANTAGEM.
José J. de Espíndola
Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.