Conversando com uma amiga, radicalmente antipetista, chego a tristes conclusões, embora queira manter o meu otimismo ou realismo. Eu acho que é realismo. Ela interpreta que é otimismo. Para ela não existe meio termo. Ou se é pessimista ou se é otimista. Acho que ela está certa. Nestas horas não há meio termo.
Há uma grande bomba financeira que é uma dívida pública, em constante aumento. A dúvida que ela coloca é como vamos pagar essa dívida?
A primeira é que não vamos. Vamos rolar indefinidamente, atrasando, renegociando e pagando, cada vez mais, juros mais altos.
Em última instância recorreremos à moratória ou ao FMI, como já ocorreu anteriormente. O país não quebra, mas fica mal.
O que o FMI vai exigir já estamos fazendo. O que ainda não estamos fazendo decorre da resistência política. Mas vamos acabar fazendo.
Já vivemos essa história, mas não com tamanho enfraquecimento popular e político da Presidência.
Por razões ideológicas, o Governo atual resistirá a fazer qualquer acordo com o FMI. Tentará os acordos diretos com os bancos e fundos de investimentos e poderá, no limite, recorrer à moratória. A recuperação da economia, com uma eventual moratória, será mais lenta.
Ou seja, a perspectiva mais pessimista, de continuidade ou aprofundamento da crise, em função da dívida do país, incluindo a pública e a privada, é a moratória.
A gestão da economia brasileira é dominada pelas lentes de tesouraria.
O foco é a sustentação da credibilidade para efeito dos financiadores. O essencial, para o tesoureiro, é garantir a continuidade do crédito. Principalmente quando se gastou ou se comprometeram as despesas acima do que se arrecadou ou de receita.
O tesoureiro tem que garantir o suprimento financeiro. Tenta sempre conter os gastos, mas os outros "não querem saber": querem continuar gastando. Acham que o seu gasto é essencial, prioritário e incompressível. Ele tem que garantir a rolagem das dívidas, na expectativa de melhoria da receita.
Joaquim Levy é um tesoureiro. Sempre foi. Não vai deixar de ser.
O PT não quer ser comandado pela tesouraria. É a visão dos gastadores. Eles sempre acham que determinadas despesas não são gastos, mas investimentos e que são necessários para aumentar a receita futura.
Em alguns casos pode dar certo, mas, na maioria dos casos, é alimentada por ilusões.
Dilma é petista, mas tem formação econômica. Começou a sua vida pública pela Tesouraria, no Rio Grande do Sul. Tem a lente de tesoureira e, como tal, não vai dispensar Joaquim Levy. Porque se o fizer irá substituir por outro tesoureiro. E não tem muitas opções no mercado. Nelson Barbosa é da turma dos gastadores. Henrique Meirelles usa a lente da banqueiro. De credor e não de devedor. Resta Delfim ou alguns dos seus antigos Delfinsboys, hoje delfinsolds. Mas ai é afrontar demais os petistas.
O tesoureiro entende de finanças, mas pouco de economia real. O tesoureiro fica nas salas com ar condicionado e nunca vai ao "chão de fábrica".
Ele também vive de ilusões. Acredita que regularizado o fluxo de caixa, a produção volta a fluir novamente. O seu combustível é um só: confiança.
Dentro dessa visão financista a crise poderá ser prolongada, porque a confiança dos agentes econômicos não depende apenas do fluxo de caixa. Está altamente contaminada e comprometida pela crise politica.
Os agentes econômicos não recuperarão a confiança se continuarem esperando pelo Governo.
Só há uma saída para a crise econômica. A reação dos agentes econômicos privados, libertando-se da dependência do Governo. Deixando a posição de lamentação e cobrança do Governo e enfrentar os obstáculos - que o Governo não só não elimina, como aumenta - e sair para vender mais, produzir mais e empregar mais. O caminho está nas vendas para o exterior. Ou no país, nos nichos que ainda tem capacidade de renda e de consumo.
Esses estão no novo Brasil. Mas o velho Brasil não quer se deslocar para lá.
Em síntese as perspectivas da crise economica são as seguintes:
mantida a visão de tesouraria a crise será prolongada, com agravamentos sucessivos e sem qualquer perspectiva de inflexão, em função da crise politica;
a confiança dos agentes econômicos privados não ocorrerá apenas com a regularização do fluxo de caixa dos tesouros públicos, mantendo-se a recessão;
a inflexão ocorrerá quando setor privado, cansado de esperar pelo Governo, irá buscar as soluções próprias, sem ficar esperando que o Governo reduza o Custo Brasil e outros obstáculos. Essa reação poderá ser demorada, só ocorrendo quando além do fundo do poço, acabar o "volume morto". É a última reação de sobrevivência.
essa reação poderá ser antecipada mas depende da emergência de lideranças que ainda estão submersas. O prazo para isso ocorrer ainda é imprevisível.
As perspectivas econômicas são comprometidas pela crise política. Mas isso trataremos em outro momento.
Jorge Hori
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Jorge Hori
Articulista