A invenção da arquitetura teuto-brasileira joinvilense

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A assim chamada “arquitetura teuto-brasileira enxaimel ou parietal”, pelo Conselho de Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura de Joinville (CPC/SECULT), é a única justificativa à proteção do patrimônio imobiliário como de valor arquitetônico, histórico e cultural de Joinville. Teoricamente, enxaimel não pode ser designado como arquitetura, isto é um grande erro, uma vez que se trata de uma técnica construtiva secular e não de um estilo arquitetônico.

A disponibilidade e abundância de madeiras nobres encontradas nas florestas virgens no início da colonização germânica em 1849, favoreceram a construção de suas casas com a técnica enxaimel, uma matéria prima gratuita e de boa qualidade, pois os materiais e técnicas construtivas normalmente utilizadas no Brasil, naquela época, eram muito caros e longínquos para que pudessem ser utilizados pelos colonos recém-chegados, tendo sido construídos seus últimos e autênticos exemplares entre as décadas de 1880 e 1900.

Estamos diante de um grande engodo e de um absurdo vergonhoso, quiçá criminoso com a população, pela maneira como se apropriaram covardemente de suas casas com o termo “arquitetura teuto-brasileira enxaimel ou parietal”.

Os cidadãos joinvilenses sofrem com essas perseguições criminosas e invencionismos arbitrários de uma administração pública despreparada, onde o direito de propriedade é algo muito "relativo".

Os termos enxaimel e parietal pertencem a duas técnicas construtivas completamente diferentes, não podem ser caracterizados exclusivamente pelo telhado de duas águas com uso do sótão como dormitório, que não se altera e foi unanimemente utilizado por quase toda a população joinvilense até meados do século XX, o que justificaria tombar a cidade inteira.

Isto não é uma autenticidade local, é uma característica funcional muito utilizada no Brasil e no mundo em regiões e países de clima frio ou temperado, a exemplo dos chalés suíços, devido ao acúmulo de neve para não sobrecarregar os telhados, mas também pelo conforto térmico proporcionado pelo aquecimento natural no interior do sótão durante o inverno. Entretanto, aqui não neva e o verão brasileiro transforma este espaço em uma estufa insuportável.

Este tipo de política pública desconectada da realidade e de um conjunto de outras políticas que as suportem, traz muito mais riscos ao patrimônio cultural do que propriamente sua proteção.

Quando se quer proteger tudo o que parece ter valor cultural, corre-se o risco de perder importantes referências dispersas na imensidão confusa de argumentos desnorteados da realidade, que nos levam a evidentes e inequívocos riscos de perdas importantes.

Todo e qualquer conhecimento sobre arquitetura brasileira do passado parece que foi ignorado e reinventado. Seria o mesmo que querermos classificar a arquitetura no bairro paulista da Liberdade, em São Paulo, como arquitetura “nipo-brasileira” devido à colonização japonesa, ou mesmo no tradicional bairro do Bexiga como arquitetura “ítalo-brasileira” devido à imigração italiana. A exemplo da arquitetura gótica da Catedral de Milão, que levou mais de quinhentos anos para ser construída, de 1386 a 1965, utilizando várias técnicas construtivas e estilos diferentes através dos séculos, contudo sempre permaneceu gótica.

Não se pode negar que a história de Joinville é rica em valores culturais. A cidade, que possui pouco mais de um século e meio, reúne muitos atrativos que a representam e que dispõem de Valores Culturais inquestionáveis. De todos eles, o principal é sua paisagem, seus bens naturais e ambientais originais. Nela encontram-se exemplos de importantes sítios arqueológicos que marcam sua paisagem local, seus rios, morros e montanhas.

Foto de Kleber Saba

Kleber Saba

Arquiteto

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