“Um apartamento na praia não cabe em minha biografia", teria respondido o ex-presidente Lula a Antonio Palocci quando este lhe fez a pergunta: "Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu triplex?”
Nas mãos de Shakespeare, a delação do ex-ministro Palocci resultaria em uma nova obra prima. Uma tragédia sobre vaidade, poder e a miséria da alma humana.
Da peça de colaboração premiada emerge um Lula cujo objetivo máximo é preservar a própria imagem, mas que não se furta a chafurdar na lama das torpezas, chegando ao ponto de receber dinheiro sujo em caixas de whisky e de celular. Pacotes de 30, 50 e até 80 mil reais.
Segundo o ex-ministro, Lula acreditava que, “ao manter distância e fechar os olhos para ilicitudes, tapava também os olhos da Justiça para seus próprios bens”.
Outra figura que daria um ótimo personagem do bardo inglês seria a ex-presidente Dilma Rousseff. Palocci declarou que a Lady Macbeth tupiniquim (que declarou ser necessário fazer "o diabo" pelo poder) 'deu corda' para a Lava Jato implicar Lula. A intenção de Dilma seria "sufocar" o ex-presidente para que não concorresse à presidência em 2014. Ela se ressentiria da sombra de Lula a governar o país nos bastidores.
O ex-ministro observou que Lula registrou as ações de Dilma para abatê-lo e a lembrou, perante várias testemunhas, que ela era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras à época de grande parte dos fatos investigados pela operação Lava Jato.
Por fim, vale lembrar aos crentes na inocência do ex-presidente que personagens secundários podem ter peso na trama. Carlos Alberto Pocento e Claudio de Souza Gouveia, ex-motoristas de Antonio Palocci, confirmaram à Polícia Federal as declarações do ex-ministro sobre supostas entregas de dinheiro a Lula.
O que não falta na tragédia política brasileira são reis e rainhas de ambição desmedida, traições, reviravoltas e a sedução do ouro a converter os homens em bestas-feras.
(Texto de Sônia Zaghetto)