O jornalismo brasileiro vive uma crise de identidade
16/02/2019 às 16:40 Ler na área do assinanteTuitei (@LCNemetz): “ Isenção não é constranger. Firmeza profissional não tem relação com grosseria. Entrevistar não é a todo tempo buscar somente contradições dialéticas. O bom jornalista esclarece e aclara fatos e ideias e não parte do pressuposto de que todos personagens estão em erro ou de má-fé”.
Ora, a grande maioria dos jornalistas brasileiros estão descontextualizados. Se portam de modo mal educado, agressivo, partindo da suposição que as personagens das suas análises e entrevistas tem a intenção de agir com falsidade, deslealdade, desonestidade, hipocrisia, perfídia, traição, dolo, fraude, mentira.
A regra geral dessa imprensa ultrapassada é concluir, de chofre, que todos sem exceção, praticam a dissimulação e tentam a impostura.
Quando investidos de comprometimento ideológico e/ou econômico, esses mesmos “jornalistas” e “comentaristas” semeiam de modo direito ou subliminarmente a intriga, a dúvida e a cizânia.
Sequer conseguem, por exemplo, potencializar os fatos. Tratam a brincadeira (de gosto duvidoso) do Silvio Santos com a Claudia Leite, como fato com o mesmo potencial ofensivo dos abusos sexuais de João de Deus. Agem de modo diametralmente oposto quando a análise de determinados fatos lhe convém aos interesses ou se assentam nas suas convicções políticas, ideológicas, afetivas, tribais ou históricas.
Houve uma época em que era natural e conveniente aos garimpeiros da simpatia pública, a glamourização das marginalidades. Ovacionar os chamados heróis que “morreram de overdose”; ou os personagens da “mais fina malandragem”. Essa velhacaria defendida com paixão ou com omissão, são os pais das patifarias da maquinação, das manobras e do ardil que sustentaram até aqui, a cultura do “jeitinho brasileiro” tão romantizado e ainda tão presente, protegido e tolerado na grande mídia e nos meios jornalísticos.
Mas esse tempo se foi! O jornalista moderno informa o fato. A interpretação cada um é capaz de fazer por si só. Ou não?
A hipocrisia é percebida pelo grande público, que se sente traído e manipulado por deslealdade intelectual.
Daí o fenômeno de esvaziamento da grande mídia e do crescimento das redes sociais.
Repórteres, analistas, comentaristas devem sair do mundo em estiveram imersos até muito pouco tempo atrás, para se reciclarem, vindo ao encontro e não de encontro (trombar) da nova realidade.
No mundo digital, basta dar um F5 para atualizar a tela. No jornalismo também é simples: basta reportar a verdade.
Com isenção e ética, transparência e boa fé.
Um pouquinho de educação também pode ajudar muito a esses que já foram deuses e perderam a divindade.
Luiz Carlos Nemetz
Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista. @LCNemetz