Teoria da Conspiração e Imunização Cognitiva

06/01/2019 às 05:20 Ler na área do assinante

PRÓLOGO

As pessoas normais, democráticas, não portadoras da SEA (Síndrome da Esquerdopatia Adquirida), ou não portadoras de IC (Imunização Cognitiva) agem assim: Se seu candidato perde nas eleições, ficam tristes, mas desejam ao adversário vitorioso o sucesso pleno em sua administração. E colaboram, sempre que podem, para que assim seja. Acima, bem acima do desejo pessoal, ou ideológico, pairam os interesses maiores da Nação. Isto, repito, é o caso de pessoas normais, amantes da democracia, portanto que não perderam a racionalidade para as patologias mentais acima citadas.

Não é o caso, entretanto, dos fiéis da seita do Lulopetismo, cujo messias é Lula, e abarca esquerdopatas de vários matizes: petistas, comunistas, fascistas, socialistas do século XXI, etc. Para estes fieis, ou se toma o poder, ou se combate, irrestrita e incondicionalmente, quem ascendeu ao poder pelo voto popular.

Os instrumentos usados nesta “luta” variam desde a oposição sistemática indicada por sua ideologia torta, o boicote a todas as iniciativas do governante, mesmos as essenciais ao país (reforma trabalhista, reforma eleitoral, reforma tributária, reforma da Previdência, ...) e, ‘last but not least’, adoram lançar mão da fofoca, da intriga, de mentiras e de teorias de conspiração. Tudo isto, claro, enquanto consideram impossível tomar o poder por movimentos armados.

De um professor da UFSC, notório por suas posições em favor do lulopetismo, recebi mensagem recente, pelas listas de discussão, em que ele afirma, difundindo uma intriga provavelmente gestada no ILDC (Instituto Lula de Desinformação e Corrupção, com sede em São Paulo):

“... o problema é que existem várias questões em aberto sobre o PRETENSO ATENTADO [a Jair Bolsonaro] do dia 06 de setembro, que indicam uma armação, em que SE HOUVE DE FATO A FACADA, deve ter provocado no máximo um ARRANHÃO no candidato...” (Os destaques em caixa alta são meus).

No caso, o professor discutia as “evidências” - ou “questões em aberto”, como ele coloca - de que o atentado sofrido pelo candidato Bolsonaro foi (e continua sendo) um teatro plantado para obter vantagens eleitorais, via vitimização.

As esquerdas sempre foram versadas e criativas em teorias da conspiração. Falta apenas uma plateia de pessoas lúcidas a dar crédito a elas.

Se isto que alegam tivesse o mínimo fundo de verdade, a conclusão primeira e óbvia seria de que o agressor é parte daquela farsa. Coisa muito perigosa para Bolsonaro, como bem o demonstram as delações premiadas, altamente comprometedoras, de velhos ‘cumpanheros’ de Lula, a mais notável de todas sendo a de Antônio Palocci. A Lava-Jato já demonstrou que é arriscadíssimo confiar-se em comparsas, principalmente quando tão expostos à luz do Sol, como no caso do agressor de Bolsonaro. Esta hipótese é tão absurda, tão primária, que só mesmo alguém portador da SEA (ou equivalentemente, da IC) pode acatar e difundir.

Segundo outro professor, agora um professor lúcido – Sim! Eles existem nas universidades, apesar de todos os pesares! -, “Imaginar que entre todos os funcionários dos dois hospitais não houvesse uma única pessoa, do faxineiro ao diretor, que fosse vazar a informação, se fosse farsa, é muita ingenuidade ou mesmo falta de caráter. Em um mundo onde tudo é filmado, não aparecer um mísero vídeo que comprove a farsa chega a ser surreal ...”

Ora aquela declaração em destaque acima é um libelo contra o Hospital Albert Einstein e sua equipe médica, pois implicitamente os acusa de estarem participando de uma farsa, na realidade um crime de desinformação médica, passível – se comprovado - de penas gravíssimas, não se excluindo, no limite, o fechamento daquela instituição privada.

O Hospital Albert Einstein goza de elevada reputação internacional. Pacientes de todo o mundo desenvolvido dirigem-se a ele para diagnósticos e tratamentos. Imaginar que tal instituição e tal equipe médica se prestariam a esta farsa que tenta transformar “um arranhão” em um ferimento quase fatal, só mesmo na cabeça ensandecida de um lulopetista.

Mas o libelo não se restringe ao Alberto Einstein e sua equipe médica. Ele atinge também a honra da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora e sua equipe médica. É sabido que antes de adentrar o Albert Einstein, Bolsonaro fora socorrido na SCM de Juiz de Fora, onde submeteu-se a uma cirurgia de vária horas, conduzida pela equipe médica local que, segundo o texto acima destacado – é o que se infere -, não só participa da mesma farsa, como lhe deu início. E o Einstein apenas deu continuidade à peça teatral para enganar incautos pela vitimização do candidato.

É uma teoria da conspiração aceita apenas por quem já acreditava que Lula é honesto, inocente de todas as acusações e condenações passadas e futuras, que foi condenado sem provas – primeiramente por um Juiz a serviço da CIA, depois por três desembargadores em Porto Alegre e, finalmente, por cinco Ministros do STJ, todos mancomunados para “perseguir” Lula e o PT.

É uma teoria da conspiração de quem já tinha como certo que Dilma tem cérebro, é uma estadista e honesta e que Gleisi Hoffman não é a Amante de que fala o Departamento de Ações Estruturadas da Odebrecht, popularmente conhecido como Departamento de Propinas.

Esquerdopatia, SEA (Síndrome da Esquerdopatia Adquirida) e IC (Imunização Cognitiva) podem não ser crime, são apenas patologias mentais. Mas produzir e divulgar teorias da conspiração que difamam e injuriam instituições e pessoas sérias é certamente crime.

EPÍLOGO

O título deste texto fala também em Imunização Cognitiva (IC). Eu sempre falei em SEA que, em se tratando de ideologias políticas, dá no mesmo. Entretanto, como a expressão IC tem aparecido na literatura política e ela é um pouco mais abrangente do que a SEA, resolvi, para ser mais completo, pincelar alguns conceitos desta patologia mental. Pego, no que se segue, uma boa carona no texto de Luciano Pires, publicado em 31/03/2016 no Portal Café Brasil, mas com toques meus.

A palavra COGNITIVO vem de cognição, que é o processo de aquisição do conhecimento, incluindo o pensar, a reflexão, a imaginação, a atenção, raciocínio, memória, juízo, o discurso, a percepção visual e auditiva, a aprendizagem, a consciência, as emoções. Envolve os processos mentais que influenciam o comportamento de cada indivíduo.

A imunização cognitiva é um estado mental que permite que pessoas se agarrem a valores e credos, mesmo que fatos objetivos demonstrem que eles não correspondem à verdade. A pessoa cognitivamente imunizada está no terreno da fé, que dispensa evidência empírica e quando a tem, a rejeita, como também é refratária ao raciocínio lógico.

A história de Galileu Galilei é emblemática de como uma evidência experimental (a descoberta visual de quatro satélites girando em torno de Júpiter) é negada pela imunização cognitiva do clero do século XVII, apegado ao sistema geocêntrico de Ptolomeu, ‘aperfeiçoado’ por Aristóteles, aceito como em conformidade com as escrituras. As descobertas empíricas de Galileu, em perfeito acordo com que pleiteara anteriormente Nicolau Copérnico, foram consideradas infamantes ao sistema aristotélico, e as evidências empíricas trazidas por galileu, como artimanhas enganosas do Tinhoso.

A imunização cognitiva leva a que assistamos gente com estudo, inteligente, articulada, que sabemos que não está tirando nenhum proveito material, defendendo em público o indefensável. Como é que essas pessoas chegam a esse ponto?

Citam-se ao menos cinco fases no processo de imunização cognitiva.

Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.

Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo.

Terceira fase: conexão dos credos às emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do “se você pecar, vai para o inferno”? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo. Lembram da eleição de 2014 quando Lula, “fazendo o diabo prá Dilma ganhá a eleição”, induzia o eleitor a pensar que perderia o Bolsa Família e veria a comida desaparecer de sua mesa? Pois então, era o PT operacionalizando esta terceira fase.

Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes.

Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito “Foi golpe”, por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment. Da mesma forma, o mantra que diz que “Lula foi condenado sem provas”, entra nessa categoria. Não é coisa do acaso.

Os especialistas em psicologia das massas sabem que nossas mentes evoluíram muito mais para proteger nossos credos que para avaliar o que é verdade e o que é mentira. E os especialistas em comunicação constroem retóricas fantásticas, com intenção de desviar o tema principal e, especialmente, imunizar cognitivamente os soldados da causa.

E aí, meu caro, minha cara, não adianta mostrar o vídeo, o recibo, o cheque, o testemunho do caseiro, a ordem da transportadora, o grampo telefônico… O imunizado cognitivo está vacinado contra fatos objetivos.

José J. de Espíndola

Engenheiro Mecânico pela UFRGS. Mestre em Ciências em Engenharia pela PUC-Rio. Doutor (Ph.D.) pelo Institute of Sound and Vibration Research (ISVR) da Universidade de Southampton, Inglaterra. Doutor Honoris Causa da UFPR. Membro Emérito do Comitê de Dinâmica da ABCM. Detentor do Prêmio Engenharia Mecânica Brasileira da ABCM. Detentor da Medalha de Reconhecimento da UFSC por Ação Pioneira na Construção da Pós-graduação. Detentor da Medalha João David Ferreira Lima, concedida pela Câmara Municipal de Florianópolis. Criador da área de Vibrações e Acústica do Programa de Pós-Graduação em engenharia Mecânica. Idealizador e criador do LVA, Laboratório de Vibrações e Acústica da UFSC. Professor Titular da UFSC, Departamento de Engenharia Mecânica, aposentado.

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