De Joana d'Arc a João de Deus, mistérios que nunca serão explicados
25/12/2018 às 17:46 Ler na área do assinanteNão foram quatro semanas, nem quatro meses, muito menos quatro anos. Foram 40 anos de atuação em Abadiânia e fora dela, curando doenças e realizando cirurgias. Ou se não tanto, indicando o caminho para a cura. E milhares e milhões de pessoas enfermas, vindas até do exterior, foram até ele.
Ele, o João de Deus, hoje preso no cárcere, sem processo e sem condenação, enquanto o outro, o médico Abedelmashi, um ano (75) menos idoso que o médium goiano, condenado definitivamente a quase 300 anos de prisão por estuprar mais de 50 pacientes, cumpre prisão domiciliar em sua luxuosa mansão de dois andares em São Paulo. Há algo errado. Mas a questão aqui não é jurídica, não é penal. É metafísica. É transcendental. É paranormal.
Dizem os biógrafos que Franz Liszt, quando compôs, as 12 peças para piano que ele próprio depois batizou com o nome "Estudos Transcendentais" (tão difíceis que nunca consegui tocá-los minimamente bem e por isso de todos desisti), Liszt entrava em transe. E assim (em transe) perdurou até terminá-los. Depois, ele próprio teria reconhecido que a obra não foi fruto da sua genialidade e da sua agilidade no teclado. Era metafísica. Transcendia seu intelecto, sua criatividade, sua inspiração. Vinha de cima. Vinha dos céus.
Como é misteriosa a vida humana. E nossas mentes não foram feitas, criadas e jamais aptas a desvendar o mistério. Nunca, Em tempo algum, por mais que a ciência progrida.
Parece que o dom está no Espírito e não na natureza humana, que erra, que rouba, que destrói, que arruína. Que peca. Assim explica Allan Kardec. Respeitemos, pois.
"Seus quadros a óleo sobre tela são fenomenais, são sublimes e nada devem a Rembrandt, a Picasso...você fala fluentemente 8 idiomas e no entanto assalta bancos. Por que?".
E Lúcio Flávio me respondeu:
"Frente à tela, com tinta, pincel na mão e quando converso em outros idiomas não sou eu e não sei quem sou. Mas quando assalto, sou eu mesmo. Isso é agonizante".
Foi num rápido diálogo entre nós, quando Lucio foi levado a mim por Kátia Lucia Villar Lyrio, sua irmã, de quem dela era advogado.
Diante da resposta, me calei. E passei a compreender e admirar aquele talentoso homem-bandido, de belo porte, olhos verdes e que um dia, ao ser preso e extorquido, disse ao policial Mariel Mariscott, a quem recusou ser corrompido e entregar o dinheiro cobrado para não ser preso:
"Quando você me ver (sic), corra e me prenda e quando eu ver (sic) você eu fujo para não ser preso, porque bandido é bandido, polícia é polícia", frase que ficou famosa e até hoje é repetida no jargão da polícia do Rio, apesar dos pesares.
Século XV. A heroína nasceu em 6 de janeiro de 1412 no vilarejo de Domrémy-la-Pucelle, no vale da Meuse, entre as províncias de Champanhe e Lorena. A pequena filha do casal de camponeses, Jacques d'Arc e Isabelle Romée nasceu predestinada a libertar a França do jugo inglês que durou mais de 100 anos (1337-1453).
Aos 13 de idade era "viva e alegre, mas não menos séria e reflexiva", como relatam os biógrafos. Foi quando começou a ter visões de anjos e santos e ouvir vozes, sobretudo de São Miguel, da Virgem Maria e de Santa Catarina que a exortavam a libertar o Rei Carlos VII e, consequentemente, a França.
E Joana d'Arc, à frente de um exército de soldados, liberta a França na noite de 7 para 8 de maio de 1429, quando triunfa sobre os ingleses. E quando Carlos VII é coroado em 17 de julho de 1429 rei da França, Joana dá sua missão por cumprida. Mas a Donzela (la Pucelle, em francês), sofreu a ingratidão de Carlos VII. Vendida aos ingleses, Henrique VI, soberano inglês, entregou a heroína à jurisdição do bispo de Beauvais e Joana D'Arc foi condenada a ser queimada viva. E assim foi.
Somente 25 anos depois de seu assassinato é que sua mãe conseguiu que Joana fosse "reabilitada" pelo papa Calisto III e em 1920 é que a heroína foi canonizada por Bento XV e hoje é considerada, junto com Nossa Senhora de Lourdes e Santa Teresa de Lisieux, padroeira da França.
Chega-se à conclusão de que o mal sempre existiu na espécie humana, em maior ou menor intensidade, numa ou noutra circunstância e ocasiões.
A propósito: nesta véspera de Natal as tvs exibiram o vídeo feito em Marambaia (RJ), em que Jair Bolsonaro, sorrindo, brinca com um segurança seu, e finge enfiar um facão de grande lâmina na barriga do homem, que acha engraçado e ri também.
Qual a graça? A facada virou piada? Mas é assim mesmo. É da própria natureza humana. É corpóreo. É físico. É tosco. É turvo. É imbecil e burro. É transitório: tem início, meio e fim.
Mas qual a explicação que pode ser dada ao mistério de Joana? Certamente que sua vida somente pode ser lida no plano dos acontecimentos místicos, transcendentais, ainda mais na Idade Média (e para toda a eternidade), tanto quanto hodiernamente, seja com a história de João de Deus ou de Lúcio Flávio, aqui mencionadas.
Jorge Béja
Advogado no Rio de Janeiro e especialista em Responsabilidade Civil, Pública e Privada (UFRJ e Universidade de Paris, Sorbonne). Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)