Fobia à masculinidade: "super trunfo" do vitimismo
22/12/2018 às 08:40 Ler na área do assinanteSe hoje tentarmos elaborar um catálogo de ‘fobias’ ficaremos surpresos tanto com o número de novas fobias quanto com os tipos de fobias criados pela nossa entediada elite acadêmica (aquela mesma “elite” formada majoritariamente pela esquerda, também conhecida como Intelligentsia - expressão que define a “elite” intelectual de “ungidos” que se arroga a autoridade para guiar a sociedade).
Recentemente ganhou espaço na mídia inclusive a ‘gordofobia’ (a propósito da série da Netflix, ‘Insatiable’). Nunca antes escutamos com tanta frequência o termo ‘fobia’. A todo o momento algum grupo (“coletivo”) associa uma particularidade sua à ideia de ‘fobia’, em uma espécie de competição cujo propósito é identificar quem é mais vítima, quem sofre mais, quem é mais perseguido, etc.
É uma espécie de jogo “super trunfo” do vitimismo.
Em breve qualquer comentário sobre alguém incorrerá em alguma fobia. Imagino se não teremos, em breve, que nos tornar como aquele cético criticado por Aristóteles, que, dada sua rejeição do princípio de não contradição, deveria se comportar como um vegetal. No meio acadêmico a situação se aproxima assustadoramente desse estado vegetativo, dado o onipresente temor de causarmos desconforto com algum comentário que possa ser considerado ofensivo, isto é, “politicamente incorreto”.
A situação é tão grave que mesmo o crítico cultural marxista esloveno, Slavoj Zizek, alertou para o fato de que o politicamente correto é uma “forma perigosa de totalitarismo”. Sua afirmação talvez ocorra porque Zizek percebeu que o “politicamente correto” é uma espécie de parasita do esquerdismo, o qual o está consumindo vorazmente.
Mas o fato é que todos já escutamos referências depreciativas a nosso respeito, especialmente na infância e juventude. Afinal, é comum os jovens criarem um tipo de intimidade mediante a afronta mútua (criando “piadinhas” uns sobre os outros, por exemplo). No passado jamais imaginamos que o uso de certos termos seria “politicamente incorreto”. Tampouco nos ofendíamos com isso. Afinal, fora da Academia as coisas são bem mais simples: quem está acima do peso é gordo, quem não escuta é surdo, quem vive nas ruas é mendigo, etc. Há pessoas consideradas feias por alguns, belas por outros, e assim por diante. Exceto pelas situações execráveis de preconceito (que lamentavelmente ocorrem e devem ser repudiadas socialmente), na maior parte das vezes não há fobia alguma.
As pessoas simplesmente são diferentes e criam laços de intimidade se referindo umas às outras pelas suas diferenças.
Quem nunca teve um amigo cujo apelido era “feio” ou “gordo”, por exemplo? Isso não era em si um problema. Era uma forma saudável de conexão e intimidade entre os diferentes (e todos somos diferentes – somos indivíduos, não meras partes de um “coletivo”).
Algo similar ocorre quanto ao sexo.
Assim, quero agora me referir a uma das mais terríveis fobias engendradas pela mentalidade esquerdista, a qual ainda vige (e é crescente) em nossas Universidades, especialmente nas ditas “humanidades”. Embora se trate realmente de uma fobia, talvez uma das mais perversas, ela simplesmente não aparece nem no léxico das fobias nem nas discussões acadêmicas. Falo da fobia à masculinidade.
Primeiro, cabe observar que é um fato que algumas características humanas são simplesmente masculinas. E isso não tem a ver com algum preconceito criado por uma sociedade patriarcal: ‘É biologia, seu estúpido!’ Foi simplesmente como ocorreu nossa “descendência com modificação” (evolução).
Consideremos, a título de exemplo, a violência. Ela está inerentemente ligada a questões hormonais masculinas. Agressividade e senso exacerbado de competição, bem como temeridade e menor empatia (vejam os estudos de Simon Baron-Cohen, por exemplo) são aspectos predominantemente masculinos. Eles não podem ser simplesmente eliminados.... cabe cultivar tais aspectos, lhes assegurar seu propósito (evolutivo) individual e social.
Por exemplo, em uma guerra a natureza violenta masculina combate exércitos inimigos (algo que no âmbito urbano é realizado, com bravura masculina, pela Polícia, a qual tem sido, aliás, de forma vil, continuamente vilipendiada pela Intelligentsia - por nossos “intelectuais”, “artistas” e “mídia” em geral, que às vezes parecem querer sugerir que eles usem flores ao invés de armas). Não apenas isso, o senso de competição conduz à prosperidade (eis a razão de Camille Paglia ter dito que "se a civilização tivesse sido deixada nas mãos de mulheres, ainda viveríamos em casas de palha" – e ela não estava criticando as mulheres, mas apenas esclarecendo a diferença entre masculinidade e feminilidade).
O homem é mais “imprudente”, arrisca mais.
E essa “imprudência” em parte é causa não apenas da prosperidade, mas também de sermos, os homens, aqueles que mais morrem de causas “não naturais” (acidentes, homicídios, etc). Não apenas isso, a maior parte da população carcerária é masculina. Isso não ocorre por preconceito. Ocorre porque somos mais imprudentes, ousados e violentos.
Tais dados são efeitos colaterais negativos de uma masculinidade desvirtuada de seu propósito positivo. Na verdade, as situações de crime e violência são, talvez, “válvulas de escape”, situações radicais, guetos para a expressão da masculinidade em uma sociedade (influenciada por uma elite acadêmica hegemonicamente de esquerda) que a tem rejeitado, alimentando um preconceito, uma fobia contra ela: Uma perniciosa fobia à masculinidade.
Mas, vejamos a questão sob outra perspectiva. Se cultivadas, essas características masculinas geram sujeitos galantes e heróis. Quando o homem abria a porta para uma mulher, por exemplo, ele estava sinalizando sua reverência a ela. Um homem que fomenta e cultiva sua masculinidade é um empreendedor ousado, bem como frequentemente é um sujeito que defende valentemente uma mulher de um ataque. Não apenas isso, ele assume responsabilidades, como as responsabilidades familiares, provendo o lar e protegendo sua esposa e seus filhos. A dissolução familiar, em parte, é causada por essa falta de masculinidade (de os homens não assumirem sua responsabilidade como homens). Segundo dados do IBGE, mais de 80% das crianças estão sob a responsabilidade da mãe, sendo que quase 6 milhões de crianças sequer têm o nome do pai em suas certidões de nascimento.
Todos nós sabemos que crianças criadas longe dos pais são mais propensas à depressão, ao encarceramento, a sair da escola, a engravidar na adolescência, etc. Portanto, feminizar os homens não vai nos levar à Utopia, mas ao caos (algo já evidente e mensurável, inclusive).
Mesmo certos traços tipicamente masculinos estão sendo banidos.
A competitividade, por exemplo, tem sido banida. Em muitíssimas “competições” (nas escolas isso tem sido comum) todos ganham uma medalha. Isso é terrível, pois desestimula justamente uma das causas de nosso progresso. Mas isso faz parte da “desmasculinização”, da “feminização” dos meninos e homens (trata-se, como esclareceu Christina Hoff Sommers em seu seminal estudo, de uma “guerra contra os meninos”). Aqui temos muito da questão ‘nature’ versus ‘nurture’, da interação daquilo que herdamos com as influências culturais.
E o ponto é: a cultura (as ideias propostas pela Intelligentsia, por nossa “elite acadêmica entediada”) tem se posicionado contra a natureza, com resultados desastrosos. Simon Baron-Cohen (e muitos outros) tem demonstrado que o cérebro masculino e feminino são diferentes. Enquanto o cérebro feminino é “projetado” (hard-wired) para a empatia, o masculino é “projetado” (hard-wired) para compreender e construir sistemas.
Há estudos abundantes os quais demonstram que, por exemplo, meninos que tiveram níveis baixos de testosterona pré-natal possuem índices mais altos de contato visual (o qual está relacionado com a empatia e com a sociabilidade). Não apenas isso se demonstrou que, quanto mais alto o nível de testosterona pré-natal, maior a rotação mental (capacidade de girar mentalmente representações de figuras bidimensionais e tridimensionais). Também está amplamente documentado que quando mulheres foram tratadas para a fertilidade com o estrogênio não esteroide sintetizado dietilstilbestrol os meninos nasceram com comportamentos mais femininos, como, por exemplo, uma tendência maior para a empatia e para brincar com bonecas. Quando camundongos fêmeas receberam (ao nascer) altas doses de testosterona, elas se mostraram mais rápidas, mais capazes de sair de labirintos, se comparadas com as que não receberam testosterona.
O senso comum sabe, mas hoje precisamos reiterar o óbvio: mulheres se saem melhor do que homens no que concerne à empatia, ao passo que os homens se saem melhor em sistematização. E isso pode ser observado (como o fez Simon Baron-Cohen) inclusive em nenéns, como já demonstrado pela “empathising-systemising (E-S) theory”, da qual Simon Baron-Cohen é um precursor. Vejam, por exemplo, o caso da Escandinávia, um dos lugares no planeta em que mais se investiu na igualdade: quanto mais iguais, mais livres para escolher, mais as mulheres insistiram em escolher a enfermagem (a qual exige empatia) como área de atuação, enquanto os homens seguiram escolhendo sobretudo as áreas STEM (Science, technology, engineering, and mathematics). Mas além desse aspecto, há a já referida agressividade, que, quando devidamente formada, é causa de prosperidade.
Há, inclusive, diferenças entre as manifestações masculinas e femininas de agressividade. A masculinidade envolve uma agressividade mais ‘direta’, com empurrões, socos, etc. A feminilidade costuma ser mais ‘indireta’ em sua agressão, envolvendo, por exemplo, fofocas, comentários maldosos, etc. E isso por uma razão: uma agressão ‘direta’ demanda menos empatia.
Em sua agressividade as mulheres tendem a ser menos violentas, mais ‘indiretas’ na expressão da agressão. Ou seja: mesmo quando agressivas elas tendem a ser mais empáticas.
Mas o ponto é que não podemos abrir mão da masculinidade e esperar que não advenham consequências nefastas. A masculinidade é fundamental à humanidade e à sua preservação.
Quem, em média, se dedica mais a trabalhos pesadíssimos e perigosos?
Quando ocorre um desastre, uma guerra, uma devastação causada por tempestades, etc, quem está atuando em resgates e diversas situações que exigem força e risco?
Observem a construção de um edifício. Quem está envolvido com o trabalho pesado?
Em uma estrada, quem está realizando o trabalho árduo, carregando fardos e construindo viadutos?
Sim, são os homens, especialmente homens cuja masculinidade está desenvolvida e é, digamos, “funcional”, os quais são muitas vezes chamados, depreciativamente (especialmente pela Intelligentsia), de “brutamontes”.
Não apenas isso há também a invenção, seja em ciência, seja em tecnologia, áreas dominadas especialmente pela masculinidade.
Foi a masculinidade que criou geladeiras, máquinas em geral, etc. E a economia de mercado (empreendedorismo, competitividade), também de jaez masculino, as popularizou, tornando a vida de todos menos pesada, mais próspera e mais confortável (inclusive a das mulheres).
Certamente as mulheres têm, hoje, um papel fundamental nesse cenário. Mas ele foi criado pela masculinidade. E é natural que a masculinidade, por razões biológicas especialmente, predomine em certas áreas.
Portanto, se há uma fobia que devemos combater, essa é certamente a fobia à masculinidade, a qual tem sido causa de desastres em nossa cultura.
É preciso reconhecer (e distinguir) as diferenças entre homens e mulheres, entre masculinidade e feminilidade, bem como assumir e fomentar essas diferenças. Importa notar que distinguir não significa discriminar (como quando se estabelece uma inaceitável hierarquia entre elas, por exemplo).
Distinguir as diferenças entre homens e mulheres é fundamental, pois foram essas mesmas diferenças que pavimentaram o caminho para a prosperidade moral e material que alicerçaram as bases de nossa civilização.
Que nós, homens, sigamos, aliás, não apenas ousando destemidamente, mas sobretudo venerando e defendendo as mulheres. Jamais deixemos de abrir a porta para elas, em sinal de nossa respeitosa reverência à sua feminilidade.
(Texto de Carlos Adriano Ferraz. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio doutoral na State University of New York (SUNY). Foi Professor Visitante na Universidade Harvard (2010). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) na graduação e no Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no qual orienta dissertações e teses com foco em ética, filosofia política e filosofia do direito).