Se João de Deus não existisse seria preciso inventá-lo, assim como o próprio Lula

21/12/2018 às 05:23 Ler na área do assinante

Sim, se João de Deus não existisse, seria preciso inventá-lo, sim.

Há um João de Deus em cada esquina de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Salvador... A nossa tendência de buscar um João de Deus dentro da Medicina, da Justiça, da Educação... Em qualquer área do conhecimento humano, é eterna.

Nós precisamos continuamente achar um "jeitinho" de burlar o trabalho, o estudo, o esforço, o mérito, necessários para superar a doença ou a pobreza... Nós celebramos o nosso jeitinho: nós jogamos futebol e driblamos a vida, a própria realidade das nossas vidas...

O espírito de João de Deus nos assedia, ele está ao nosso redor, nas nossas noites, nos nossos dias, nos nossos lares, escolas, tribunais...

É o espírito de João de Deus que nos faz aceitar o que Marco Aurélio Mello (MAM) fez nesta quarta-feira (19). É o espírito do João de Deus que nos acalma porque afinal "deu tudo certo e o Toffoli cancelou tudo..."

Foi o espírito de João de Deus em nós que nos fez acreditar que Toffoli agiu em nome da Justiça e não em nome do medo do Exército. Foi o espírito de João de Deus que nos calou quando nos informaram que 48 minutos depois da decisão de MAM o PT entrou com o pedido de habeas corpus de Lula em Curitiba.

É ele, esse espírito maligno, que nos coloca numa situação que mistura covardia com sem-vergonhice e que nos impede de reagir perante os falsos "médicos cubanos", perante os "professores cubanos" e agora perante os "juízes cubanos"...

E como sabemos que nenhum espírito assedia quem não oferece chance de ser assediado, como reconhecemos que precisa haver uma sintonia de interesses entre espírito obsessor e sua vítima, nós mentimos para nós mesmos dizendo que somos só isso - vítimas.

Sim...somos vítimas sim: vítimas do Lula, de Dilma, Cunha, Cabral, Jucá, Renan, Aécio, Temer...somos vítimas do Favreto e agora do Marco Aurélio e fingimos até, que ontem Toffoli agiu em nome da Justiça, para que, no dia em que ele mandar soltar Lula, possamos nos apresentar como vítimas dele...

Aceitamos a presença de todos estes algozes. De todos eles, nós nos dizemos "vítimas", menos de nós mesmos. Nós jamais vamos reconhecer e assumir a responsabilidade total pelas nossas vidas. Os culpados são os outros - são eles, os políticos, os que nos dominam, os Donos do Poder, do Estamento Burocrático.

O Governo nem começou e Bolsonaro já colocou lá dentro Osmar Terra e com ele todo o PMDB, já trouxe um comunista e tutor do Programa Mais Médicos, uma babá de médico cubano, que era Secretário Municipal da Saúde de Porto Alegre.

Bolsonaro não disse ainda uma palavra sobre o marginal (agora condenado) que ele colocou como Ministro do Meio Ambiente e é o espírito estuprador, abusador de crianças, que nos cala quando o Governo atual aceita novos médicos formados no estrangeiro sem revalidação nenhuma do diploma e Mandetta não diz nada.

Tudo isso nós vamos aceitando, vamos engolindo, relevando, relativizando...e quando algum de nós escreve sobre isso, surge um patife, sempre um marginal que reage, misturando marxismo com psicanálise de botequim, e responde:

- "esse tem complexo de vira-latas! O Mundo é assim em toda parte..."

O que João de Deus fez com as pessoas em Abadiânia não é só a prova de sua monstruosidade - é a prova da ignorância, da covardia e da sem-vergonhice de um povo que, se pudesse, jamais prenderia nem mataria João de Deus nem Lula - só trocaria de lugar com eles.

Milton Pires

Médico cardiologista em Porto Alegre

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