Honrar alguém implica maior valor do que honrar a si próprio

Um coração valente

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No dia 14 de janeiro de 2014 publiquei em meu blog pessoal um texto revelando o meu pensamento e a minha interpretação focada na história que já viralizava, à época, na internet acerca de uma jovem chamada Lizzie Velasquez, tratando de sua condição genética como ponto de partida para refletir os desdobramentos desta mesma condição. O mesmo texto, talvez com algumas correções, também publiquei, neste jornal, em 26 de março de 2015 (clique aqui).

À bem da verdade, a repercussão não foi a que eu esperava, mas foi suficiente o bastante para honrar a sua história de tal maneira que me senti honrado por fazê-lo; o mesmo sentimento repetido sempre que releio aquele texto.

A luta de Lizzie não é recente, mas os resultados de sua força e caráter lhe rendem hoje a honra na sua mais pura essência. Não é a honra dos nobres nem dos aristocratas; sequer é a honra dos títulos, dos monarcas, dos cidadãos do Estado nem sequer dos honoris causa.

Lizzie, atualmente, é considerada uma das mais influentes personalidades do mundo no combate ao bullying, ao preconceito, as desigualdades e a todos os tipos de pusilanimidades de que o homem comum é capaz.

Em razão de sua determinação, seu trabalho incansável de mostrar-se ao invés de esconder-se, de conscientizar ao invés de explicar, de honrar ao próximo ao invés de vitimar-se, chega agora às telas do cinema em documentário dirigido por Sara Hirsh Bordo, uma jovem Produtora Cinematográfica americana, sob o título original “A Brave Heart: The Lizzie Velasquez Story”. (Assista trailer ao final)

“Um Coração Valente: História de Lizzie Velasquez” é uma produção americana de 2015 no formato documentário e gira em torno da vida de Lizzie, que hoje tem vinte e cinco anos de idade e pesa vinte e seis quilos. Sofria bullying na escola por ser diferente, e na adolescência descobriu, acidentalmente, quando buscava vídeos musicais na internet um vídeo em que ela própria aparecia e que a rotulava como “A Mulher Mais Feia do Mundo”.

Os comentários que se seguiam no feed iam desde um desatino idiotizado até funestos conselhos como: mate-se, deveria ter sido abortada, jogada ao fogo e outros tantos abusos profundamente inumanos.

Assim como a pobreza não pode ser considerada uma desonra, a magnanimidade, a liberdade, a esperança, a coragem, a confiança e tantas mais substantivações e adjetivações positivas, igualmente não são desonra porque provêm da consciência da posse do poder. Assim é que Lizzie avaliou a situação.

Dalí em diante enfrentou todos os medos e os dedos acusadores dos covardes e fez de si mesma um baluarte de virtuosidades que trata de distribuir a todas as pessoas, conquistando e consertando, cada vez mais, consciências.

Sua capacidade de inclinar as pessoas para uma espécie de transmudação, um input de inflexão, uma verdadeira desinência esgotante metafísica, impressionam pela nudez inocente dos seus ensinamentos e pensamentos que abalroam os preconceitos que repousam em mentes abandonadas de razão, amor e entendimento vital de suas próprias existências; extrema sutileza da invasão nos conscientes e espíritos alheios, livre de permissão.

A resiliência – admirável – de Lizzie faz resgatar em minha memória as palavras de Hank Rearden[1] ao confrontar seus acusadores diante da corte judicial de exceção: “(...) Se nós, que somos os que fazem, os que produzem, os benfeitores da humanidade, consentimos em que nos rotulassem de maus e suportamos silenciosamente o castigo a que nos sujeitaram por causa de nossas virtudes, que espécie de ‘bem’ queríamos que triunfasse no mundo?”.

Ainda que da história real de Lizzie e da ficção de H. Rearden, essência e substância dos argumentos permanecem inalteradas, cada qual o seu próprio jugo.

O Leviatã no homem está na sua origem, na sua peculiar animalidade, pois, ainda que movido por paixões, a linguagem de sua expressão pode ser-lhe peculiar e voluntária. E, quando voltado ao apetite e desejo – como que para matar a fome e a sede – ou, na sombra da mesquinhez de caráter ordenado e igualmente voluntário – como quem se está em estado de necessidade – imprime todo o seu esforço voltado para a aversão; ausente a necessidade premente, está a realizar-se nele o mais primitivo sentimento de desprezo por qualquer coisa ou pessoa incapaz de lhe atribuir prazer. Assim vejo e sinto os que atacam Lizzie.

Do aforismo: “Dans le veritable amour c'est l'âme qui enveloppe le corps”.[2]  Ou, em bom português: “O verdadeiro amor é a alma que envolve o corpo”.

 JM Almeida


[1] Personagem do Romance-filosófico Atlas Shrugged, 1957 : by Ayn Rand

[2] Aforismo de Nietzsche, F.: Além do Bem e do Mal : Editora Vozes | 2ª ed.

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JM Almeida

João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas. 

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