O Brasil, desde os primeiros tempos da colonização foi alvo constante de ações de piratas e corsários motivados pelas suas riquezas naturais aqui existentes. O filme “Como era gostoso o meu francês”, de grande beleza plástica, retrata as relações dos nativos com aventureiros franceses e os escambos com o pau-brasil. Assim, a orla litorânea foi invadida em vários pontos, ao que se sabe, por piratas franceses e holandeses. A história registrou também, em contrapartida, uma permanente vigilância dessas terras pelos colonos luso-brasileiros.
Quando o ouro e outras riquezas minerais foram descobertas, os próprios colonos utilizaram as mais criativas formas de contrabando, inventando “o santo do pau oco”. E, ao longo da história brasileira, tivemos inúmeros outros casos de pirataria.
Mais tarde, de meados do século XIX até 1912, o Brasil dominou o mercado mundial da borracha amazônica, resultante dos avanços tecnológicos da Segunda Revolução Industrial. Foi uma fase de acúmulo de grandes riquezas externadas, por exemplo, no belo e luxuoso teatro de Manaus. Essa pujança motivou a cobiça de muitos países por esse produto tipicamente brasileiro. Para usurpá-lo, o inglês Henry Wickham, a pretexto de levar sementes para o plantio no horto do palácio da rainha (como o governo brasileiro era bonzinho, autorizou inocentemente esta patifaria), transportou milhares de sementes da árvore produtora do látex para a Malásia e o Ceilão. O resultado não demorou a aparecer com a concorrência da borracha “inglesa” e a falência do mercado brasileiro da borracha, provocando quebradeiras dos empresários daqui e miséria e fome para os seringueiros.
Hoje em dia, é comum a Amazônia sofrer a ação de ONGs e de aventureiros travestidos de pesquisadores, que são verdadeiros contrabandistas de minérios e de outras riquezas naturais para o exterior. O que é pior, quase sempre nas barbas do governo. Porém, sabe-se que em certos casos o governo tem tomado medidas preventivas, como aconteceu com os produtos derivados do açaí e com o bombom de cupuaçu, que os japoneses, abrindo os olhos para essas delícias, patentearam-nas como polpas e doces orientais. Essa pirataria foi energicamente combatida pelo governo federal junto aos organismos ligados à ONU. O mesmo aconteceu com a rapadura, nosso velho e delicioso doce colonial. Não é que os espertinhos estrangeiros tentaram patenteá-la também, recebendo em troca uma dura reação do nosso governo.
Para o espanto de muita gente, a Argentina e a França também começaram a fabricar um genuíno produto brasileiro, a nossa velha e famosa cachaça. Mais uma vez o governo teve que interferir para serem respeitados seus direitos junto a ONU.
Agora, é preciso ter cuidado com as riquezas do nosso Pantanal. Sabe-se que piratas modernos estão coletando amostras dos recursos naturais nesta bela região sul-mato-grossense e não é de hoje. Penso que esta ação predatória vem acontecendo também na região norte pantaneira.
Tempos atrás a polícia flagrou pseudocientistas que, sem permissão legal, coletavam materiais na serra do Amolar (na região norte de Corumbá), aliás, uma área de preservação permanente. Porém, foram libertados sob fiança e estão respondendo por crime ambiental. Na época, a atuação policial somente foi possível pela ação dos moradores da região, o que demonstra que a defesa de nossos bens naturais e culturais é um dever de todos, independentemente de ser polícia ou não.
Mais recentemente a polícia teve que intervir para prender quatro pesquisadores norte-americanos (serão os mesmos?), sem autorização das autoridades ambientais, que coletavam material genético e químico nas águas do rio Paraguai, também na região de Corumbá. Entraram como turistas no Brasil e deram uma péssima lição de ética aos alunos que os acompanhavam.
Mas a pirataria não brinca em serviço. Em 2001, na Bahia foi descoberta uma esmeralda de 380 quilos, 180 mil quilates e formada por 9 tubos verdes. Foi considerada a maior pedra preciosa do planeta avaliada em 400 milhões de dólares. Sabe o que aconteceu? Foi contrabandeada para os EUA e o Brasil ficou a ver navios.
Como antigamente, o país continua sendo alvo de interesses estrangeiros que cobiçam as riquezas naturais do nosso país.
Não basta ter as aves de rapina domésticas que dilapidam o patrimônio dos brasileiros. É preciso, pois, manter eterna vigilância.
Valmir Batista Corrêa
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Valmir Batista Corrêa
É professor titular aposentado de História do Brasil da UFMS, com mestrado e doutorado pela USP. Pesquisador de História Regional, tem uma vasta produção historiográfica. É sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de MT, sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de MS e membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras.