Mais Médicos discriminava brasileiros e só aceitava “cubanos”, denuncia médica
21/11/2018 às 09:47 Ler na área do assinanteMédicos brasileiros que se inscreviam no Mais Médicos não eram aceitos no programa. A preferência era dos cubanos.
Aliás, ser ‘cubano’ era um requisito indispensável.
Algumas vagas só se abriram para brasileiros no ano de 2017, quando Cuba por algum motivo não teve mais condições de enviar médicos para o Brasil. Nessa época foram abertas 710 vagas, todas preenchidas por brasileiros, desmentindo a cantilena de que faltavam médicos no Brasil ou de que médicos brasileiros não se dispõem a trabalhar em locais distantes no interior do país.
Uma médica brasileira, extremamente qualificada, inclusive com curso de extensão na França, se inscreveu no programa com o único objetivo de confirmar a discriminação.
Trata-se da médica Patrícia Izetti, detentora de residência médica no Instituto Nacional do Câncer (INCA) e doutorada em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS.
A doutora Patrícia Izetti não foi aceita no Mais Médicos do PT.
Um absurdo e a clara comprovação de que o Mais Médicos foi criado para atender apenas as necessidades financeiras da ditadura cubana.
Abaixo, o relato na íntegra de Patrícia Izetti:
“Vou contar uma historinha para vocês.
Em 2016, uma amiga médica recém formada inscreveu-se no Programa Mais Médicos e, apesar da formação extremamente adequada e da NÃO PREFERÊNCIA por região para atuação, teve sua inscrição negada.
Em janeiro de 2017, no lançamento de mais um edital do programa, eu, terminando minha residência médica no INCA, mas incomodada com a história dela, resolvi me inscrever no programa para testar a hipótese de que o programa servia SIM para patrocinar a ditadura cubana, mais do que para levar médicos aos rincões do país. Detalhe: no meu currículo constava um Doutorado e 720 horas de formação para atuação em saúde pública no internato da faculdade.
Olhem, foi uma trabalheira dos infernos. Vários formulários preenchidos, documentos scaneados e enviados, um dia inteiro perdido com isso... e, detalhe, na inscrição não especificamos NADA sobre preferências de áreas de atuação (a inscrição pode ser considerada até para regiões indígenas no meio do nada).
Pois bem, qual não foi a minha surpresa quando também não fui "aceita no programa", mas centenas de cubanos sim.
Na época deixei quieto, era só uma curiosidade que eu desejava sanar, mas agora levarei isso adiante - tem é que ser feita uma CPI desse programa escabroso. É revoltante ouvir de tantos e da mídia desinformada que "faltarão médicos" e que a população "ficará desassistida" com o fim da cooperação cubana. Isso é uma FALÁCIA!
O programa serviu para mostrar que temos SIM médicos brasileiros interessados em ir para o interior, desde que estimulados e adequadamente pagos para isso. Resta agora o governo desenvolver um programa mais decente, que envolva remuneração salarial e não uma bolsa sem qualquer direito trabalhista, disfarçada de "aprimoramento".
Ainda sobre o Programa Mais Médicos, a AMB já havia denunciado tudo isso que digo em 2017 e declarou: "Precisou que o governo cubano se recusasse a enviar 710 médicos para o Brasil (600 novos e 110 como reposição) para mais vagas serem dirigidas a brasileiros. Mas esta quantidade de vagas ainda é insuficiente, perto da quantidade de médicos brasileiros interessados, pois só no último edital se inscreveram 10.557 médicos brasileiros.
O interesse de médicos brasileiros em entrar para o programa Mais Médicos sempre foi grande, antes das inscrições de janeiro. Em outros editais a quantidade de médicos inscritos foi superior ao último. Grande quantidade de profissionais procurou a Associação Médica Brasileira (AMB), por se sentirem preteridos ou cerceados nos seus direitos, beneficiando médicos de outros países."
Pois bem, agora vou lutar por essa CPI, porque já estou cansada de tanta mentira, de tantas acusações injustas de corporativismo médico e tanta irresponsabilidade envolvendo nós médicos brasileiros.
Paciência tem limite.”