Jovem médica explica o descaso do "Mais Médicos" com brasileiros e a preferência por cubanos
19/11/2018 às 10:51 Ler na área do assinanteCircula nas redes sociais um texto em que uma jovem médica explica como o programa Mais Médicos discrimina médicos brasileiros em favor de médicos estrangeiros. Ela aponta como os editais e os sistemas informatizados funcionam, demonstrando como o programa torna inacessíveis a diversos médicos áreas em que os mesmo teriam interesse e como a preferências por médicos estrangeiras é exercida no mecanismo de chamadas dos editais. Ela aponta ainda como médicos brasileiros foram demitidos de áreas vulneráveis com a ascensão do programa. Confira o texto reproduzido pelo perfil de Tatiana Tabatchnik no Facebook:
"Detesto entrar em assuntos polêmicos, e essa publicação tampouco tem conotação política, mas ao ver nossa classe médica sendo cruelmente criticada e a desinformação das pessoas, me senti no direito de me pronunciar.
Antes de me julgarem como a médica hipócrita e capitalista, gostaria de deixar claro minha opinião.
O programa mais médicos veio com ótimas intenções a fim de suprir a desassistência da população em locais carentes, de difícil acesso onde a saúde púbica é claramente sucateada. O que idealmente torna o programa maravilhoso mas que infelizmente na prática não se comporta como tal.
Primeiramente gostaria de esclarecer algumas questões inerentes ao programa, que infelizmente a sociedade não tem consciência.
O programa mais médicos, alem de privilegiar os cubanos, dificulta o ingresso de médicos brasileiros, vocês sabiam? Daí vocês me perguntam: mas como assim? Na minha cidade do interior a população ficou desassistida por vários meses porque nenhum médico quis assumir. Como você explica isso???
Simples. Vamos ao edital pra explicar esse fato....
O edital do mais médicos, contempla algumas peculiaridades.
1) As vagas disponíveis são financiadas pelo governo. Quem paga o médico é o governo. A cidade tem obrigação de bancar alguns benefícios como transporte e moradia.
2) As cidades são classificadas de acordo com a vulnerabilidade. Exemplo: Sabe aquela sua cidadezinha do interior de minas? Pois é, ela tem baixa vulnerabilidade, pois os indices de criminalidade sao baixos e a economia é razoavelmente boa. Enquanto isso, sabe aquela outra cidade grande, que tem uma vaga pra médico naquele bairro afastado e com alta criminalidade? Pois é, ela tem alta vulnerabilidade.
3) Pelo edital, o médico só pode se inscrever em um município com vulnerabilidade mais baixa daquele que ele trabalha. O programa puxa no sistema o CNS, CNES e a classificação do estabelecimento de saúde em que o médico trabalhou por último e quando disponibiliza as cidades para disputa de vagas, são um numero irrisório de municípios e com classificação pior (mais vulnerável) daquele que você trabalha. Ou seja, o médico brasileiro não pode se inscrever pra trabalhar naquela cidadezinha que ele quer e sua família mora, pois a lista de municípios disponíveis pra inscrição não contempla essa cidadezinha que ele almeja e que possui a vaga.
Vejamos: sabe aquele médico que você amava no posto e saiu de lá? Entrou um cubano no lugar dele, não foi? Então vou te contar. Esse médico brasileiro foi demitido, ele se inscreveu no programa mais medicos, inclusive ele iria ganhar mais e teria mais benefícios com o programa. Mas infelizmente a lista de municípios que ele pode cadastrar, não contemplava essa cidade q ele trabalhava e amava. Exemplificando: se o medico trabalha em um posto na cidade de Betim, em uma comunidade carente, numa favela por exemplo, a lista de municípios que aparecerá pra ele se inscrever, sera de cidades com vulnerabilidade maior e alta criminalidade e não aquela que ele tem interesse.
4) O sistema implementado pelo programa mais médicos realiza 3 chamadas (apenas TRÊS, com 15 mil inscritos e 4 mil vagas), sendo que em cada uma o concorrente escolhe 4 cidades de interesse seguindo os critérios já explicados acima. É feito um desempate nas vagas mais concorridas e os primeiros colocados são chamados para trabalhar. Após a primeira chamada, pela lógica se o primeiro colocado não quiser assumir aquela vaga, o próximo excedente é chamado, correto? NÃO!!! O sistema reabre a vaga para a próxima chamada para o médico estrangeiro, e o médico brasileiro é descartado e fica desempregado! As vagas serão preenchidas por médicos intercambistas, em detrimento de mais de 11 mil médicos brasileiros que ficarão de fora do programa.
5) O programa também possibilita a entrada de médicos que não tem revalidação de diploma, o que na minha opinião é um atentado não só aos medicos brasileiros que tanto lutaram para ingressar na disputada faculdade de medicina brasileira, mas principalmente um ATENTADO à população que não tem nenhuma garantia da qualidade assistencial prestada. Exemplo: você sabia que a faculdade cubana de medicina contempla 4 anos de estudo e a brasileira 6 anos? Pois bem, como médica, posso dizer que pelo volume de matéria, pela responsabilidade que temos, acho que 6 anos é um tempo mínimo, pra não dizer pouco. Alem disso, vocês sabiam que em qualquer lugar do mundo é necessário o médico revalidar seu diploma, muitas vezes com múltiplas provas e cursos, e só assim poder exercer a medicina fora do país de formação?
6) Aproximadamente 70% do salário pago ao médico cubano, são destinados a ditadura cubana. Enquanto isso, o profissional se esforça para trabalhar e sua família vive sob péssimas condições sem a possibilidade de melhora. Você trabalharia se seu patrão ficasse com 70% do seu salário???
Alguns dados a mais:
- Há aproximadamente 20 mil médicos formados no exterior, que falam nossa língua e que aguardam revalidação de diploma pra exercer a medicina no Brasil. Porque não priorizaram esses medicos ao invés dos cubanos?
- A maioria das vagas do programa mais medicos são preenchidas por médicos cubanos. Vocês já se perguntaram porque? Estranhamente os médicos brasileiros se inscrevem e não conseguem a vaga. A maioria dos meus colegas não conseguiram e eu mesma me inscrevi e não consegui. Porque será????
- Quando o programa foi implementado, milhares de médicos brasileiros foram demitidos pelas prefeituras e não puderam continuar no seu emprego. Quase metade das cidades que recebeu um MAIS MÉDICOS continuou com o mesmo número de profissionais ou reduziu. A grande maioria desses médicos brasileiros que foram demitidos tentou ingressar no programa e se inscrever, mas não conseguiram manter seu emprego. Um bom exemplo seria que a maioria esmagadora dos médicos do programa que trabalham na capital e cidades pequenas nos arredores é composta por cubanos. Vocês acham mesmo que o médico brasileiro não queria ocupar essas vagas, sendo que o salário pago pelo programa é maior e ainda existem diversos benefícios extras?
- Porque os médicos continuam resistentes em morar em cidades afastadas? Seria apenas pela localização e preconceito, ou seria porque na maioria desses locais a saúde se encontra sucateada, sem condições dignas de trabalho, onde faltam recursos, materiais e estrutura necessária?? A alegação é de que os médicos brasileiros não querem!! Tenho que discordar! Os médicos não querem ser reféns de prefeituras; levar calotes; ser substituídos, na calada da noite, por outro médico que tem indicação política; trabalhar sem o mínimo de dignidade e estabilidade...
- A maior parte dos médicos brasileiros não é contra o programa, mas se posiciona a favor da revalidação do diploma, mudança do edital, e um programa mais transparente e confiável.
Termino essa reflexão pedindo a valorização da nossa profissão, através de um brasil melhor pra todos, onde a população possa receber uma medicina de qualidade seja em uma capital ou em uma cidade do interior afastada, nesse país tao plural e de grande extensão territorial.
“Não faltam médicos brasileiros. Faltam recursos, plano de carreira e condições dignas de trabalho!“ Segue foto de uma das centenas de demissões de colegas brasileiros que foram substituídos por cubanos. Foram centenas! Da noite pro dia! E essa instabilidade de empregos em locais afastados também assusta muito, fato de você ser demitido sem qualquer fundamento trabalhista mas apenas por conveniência.
da Redação