A inteligência da tartaruga

29/10/2018 às 22:53 Ler na área do assinante

PROLEGÔMENOS

Já no início do primeiro mandato de Lula - isto em 2003 - quando ele era saudado como um fenômeno social e político não só pela militância, mas pela imprensa em geral, escrevi sobre ele meu primeiro artigo, já então navegando contra a corrente da louvação geral.

Na época, Lula, sentindo-se dono do mundo, aplicava ao seu partido – e a quem votou nele - um descomunal estelionato eleitoral: rasgou o discurso de 20 anos do PT contra o pagamento da dívida pública; escreveu a tal “Carta ao Povo Brasileiro” – que, na realidade, era dirigida à banca internacional – onde se comprometia a seguir as regras do outrora odiado ‘mercado’, e jurava cumprir todos os compromissos financeiros assumidos por governos passados.

Passando das juras à ação, nomeou Henrique Meireles – que recentemente se aposentara como CEO internacional do Bank Boston - para o Banco Central. Em suma: um nunca visto, mesmo no Brasil, monumental estelionato eleitoral atirado na cara da militância. Poucos no PT ousaram contrapor-se ao pequeno imperador e os que o fizeram foram expulsos do partido. Isto é História, portanto incontestável.

Ao invés de ser contestado por rasgar um discurso de vinte anos, Lula foi – num movimento de vaquinha de presépio – elogiado pela esmagadora maioria da militância petista. Faça tudo o que o seu mestre mandar, era a mensagem tácita que os donos do partido infundiam, pelo cabresto, à militância petista.

A defesa e louvação ao Lula, claro, não escapou às listas de discussão da UFSC e o artigo que escrevi então, sempre fugindo da manada da mesmice, foi o primeiro (acredito que até nacionalmente) contraponto ao endeusamento geral àquele que se fazia apresentar como salvador do Brasil, quiçá do mundo.

Nesta era pós-Mensalão e Lava-Jato em pleno viço, em que foram para a cadeia todos os principais amigos, correligionários e colaboradores de Lula – inclusive ele próprio -, e após a derrota eleitoral de seu ‘alter ego’, Fernando Haddad, é inevitável que me venha à memória aquele simples artigo, contrário e contraditório ao que se difundia numa louvação ensurdecedora ao novo ídolo pop das massas. Também não posso evitar de lembrar-me da sentença atribuída a Abraham Lincoln:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”

Quanto a mim, este artigo de 2003, que reproduzo abaixo prova que Lula, o PT e adjacências nunca me enganaram.

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A INTELIGÊNCIA DA TARTARUGA

Um ilustre professor deste CTC (Centro Tecnológico da UFSC) procurou justificar a incoerência entre o discurso eleitoral do presidente da República e a sua ação atual, apelando, segundo diz, para a psicologia:

“A psicologia define inteligência como a capacidade de adaptação a situações novas. O Lulinha* está mostrando que é o fino da inteligência.”

A observação é instigante e gostaria de discuti-la brevemente.

Primeiro recorro à Lógica, esta espetacular parte da Filosofia que, embora espetacular, anda muito fora de uso.

Pois ensina a Lógica que a definição não pode conter o objeto definido e, mais aplicável ao caso em tela, que não se pode definir uma coisa pelas suas propriedades.

Definir significa construir intelectualmente uma entidade, ou objeto. Só após esta construção intelectual (axiomática) é que as propriedades da coisa construída podem ser levantadas.

Claro, não se pode conhecer as propriedades da coisa a ser definida (ou construída) antes da sua construção (ou definição), simplesmente porque, até então, aquela coisa não existe. Todo bom estudante de matemática, física e engenharia sabe essas coisas.

A tal definição psicológica de inteligência, acima referida, transgride esta prescrição da Lógica. A capacidade de adaptação de um ser é uma questão descritiva de comportamento. Não pode ser tomada como definição de coisa alguma.

Mas, se tomássemos ao pé da letra tal “definição”, num exercício de faz de conta, chegaríamos a conclusões interessantíssimas. Por exemplo, o ser mais inteligente não seria Lulinha, nem qualquer outro homem ou mulher existente, já existido ou por existir. Seria a tartaruga, ser aparecido no período paleozoico, há mais de duzentos e quarenta e cinco milhões de anos e que, numa demonstração fantástica de adaptação aos mais variados ambientes (ou “situações”) terrestres, sobreviveu até nós. Atravessou o período paleozoico, o triásico, o jurássico (aquele do apogeu dos dinossauros), o cretáceo e a hecatombe astronômica que há 65 milhões de anos dizimou os dinossauros.

O segundo ser mais inteligente talvez seja, aceita a “definição” acima, o crocodilo, aparecido ao fim do paleozoico. Sem falar também neste exemplo de inteligência excepcional, demonstrada pela capacidade de adaptação natural às mais díspares situações: a barata.

A aludida “definição” melhor seria tomada como descrição do comportamento oportunista de certas pessoas que, híbridas com urubus, voam conforme o vento.

O atual governo está cheio delas.

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* Lulinha! Na realidade Lulinha Paz e Amor, era o tratamento da época (2003) reservado ao apedeuta, posteriormente vindo a ser reconhecido como o Grande Canalha, artífice e usufrutuário dos maiores escândalos políticos da História Ocidental: Mensalão e Petrolão.

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