O eleitorado brasileiro tem agora o poder do exercício derradeiro de voto nesta eleição para escolher o homem que vai ocupar o mais alto posto do país a partir de 2019, o seu presidente.
Bolsonaro ou Haddad? Qual desses postulantes tem a capacidade de fazer o Brasil retomar o seu desenvolvimento? Crescimento é algo para depois, uma vez que a desordem orçamentária deixada pelos últimos governos é de tamanha magnitude que em 2018 já se é possível estimar o déficit orçamentário para 2020 acima dos 100 bilhões de Reais, dizem os especialistas. Mas, pior, o povo continua a praticar a sua verve sobre os trilhos do extremismo – o “nós” e “eles” ainda não acabou, e não dá sinais de esmorecer, muito pelo contrário.
Haddad há muito é previsível para o posto, ainda que no PT já houvesse grande discordância em torno de sua indicação, mas dadas as circunstâncias de todos conhecida sobre o demiurgo petista engaiolado, não restaram outras opções ao clã, que reaproximasse o Partido dos Trabalhadores e a maioria do povo, sem contar, por óbvio, a sua grei, seus eleitores mais fieis. Deu certo. Haddad chega ao 2º turno das eleições, mas em desvantagem. Como dizem algumas tribos de jovens: “Deu bom, mas deu ruim”. Como isso aconteceu? Bem, há diversas razões que podemos explorar, porém, nenhuma delas postula a favor do Brasil, me parece.
Algo em torno de 20 pontos nas últimas pesquisas empurra Bolsonaro para a cadeira presidencial. E agora, José?O adversário de Haddad há quase 30 anos no parlamento brasileiro, até pouco tempo, era inexpressivo para a construção das legislações brasileiras. Tornou-se mais conhecido por suas estrepolias, bulhas e maldizeres, do que por suas virtudes ainda incógnitas. O antípoda das aspirações mais modernizantes de nossa geração fez sucesso no insucesso alheio. Ao melhor estilo Trumpnista (me perdoem o neologismo), Bolsonaro encarna por aqui a versão tupiniquim daquele que os norte-americanos colocaram no poder. Semelhantes características os aproximam. Bolsonaro não tem compromisso com a postura, tampouco com a compostura; de ética e moral duvidosas confronta descaradamente as novas demandas sociais, econômicas, ambientais e culturais. Ah!, por certo dirão os seus eleitores: “não é isso não moço, o senhor tá errado”. Pois bem, amém – que assim seja –, mas me apontem um mísero número de vezes que Bolsonaro não tenha dito, redito, enfatizado, agastado e apontado para uma série de “fobias” em suas manifestações! Não quero o que ele não quis dizer, mas o que disse, desdisse ou disse numa ou noutra oportunidade de maneira que lhe fosse mais favorável e conveniente.
Mas o fato está dado.
Sendo assim, torço para que seja um bom presidente. Eu apreciaria os bons serviços prestados ao povo e a Nação, relevando, com reservas, até as suas grosserias, seu instinto primitivo no trato com as pessoas. O congratulo, pois acho que ele já está com a mão na faixa presidencial, mas nada garante que na undécima hora o Sol brilhe mais intensamente para Haddad do que para ele. O jogo ainda pode virar; só acaba quando termina.
Seja qual for o resultado, enfim, pergunto: - E a Democracia, como fica?
Creio ser esta a maior questão sobre a qual todos os brasileiros deveriam se debruçar.
Nossa Constituição Federal completou 30 anos de sua promulgação. Alguns a dizem madura, outros ainda parcialmente insípida em partes de seu arcabouço constitucional. Com 248 artigos, 114 ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias), possuindo em torno de uma centena de Emendas Constitucionais, Súmulas Vinculantes (ou não) em grande número, é possível, sim, afirmar que de tão complexa e de difícil alteração (classificação de Constituição Rígida cujas alterações dependem de um sofisticado processo legislativo), a nossa Carta Magna ainda demanda muito esforço para esgotar a sua total aplicação. Considerada, se não a mais completa Constituição do mundo, é uma delas. Deve ser motivo de orgulho para os brasileiros; mas o homem mediano não quer saber de constituições, leis, normas, ou qualquer outra forma de mandamento que não seja aquele que lhe proporcione uma vida digna, com emprego, salário justo, moradia, saúde, educação e lazer. Estão errados? Jamais!, pois são Princípios, Direitos e Garantias Fundamentais consagrados em nossa Constituição e os três Poderes da República têm por força dessa mesma Lei Maior prover o povo segundo os seus mandamentos. Bonito, não é? Mas quem faz isso pelo povo? – Ou melhor: quem fez isso pelo povo desde a redemocratização do Brasil. Vivemos tempos estranhos desde essa época! Consertar e concertar o país têm sido ao mesmo tempo esperança e desilusão para o nosso povo. Não vou escrever aqui, mas convido o leitor a buscar na memória ou nos livros os presidentes e seus governos, considerando as condições socioeconômicas concernentes a cada um em suas épocas. Não é a Carta Maior que é insípida, é a nossa sociedade que é retrógrada (com exceções) porque só olha para o passado para alimentar o seu lamento e não para aprender com o erro; é sem memória, sem história de cidadania, verdadeiramente cidadania vivida em sua plenitude, mas em pedaços, pequenos cacos. O que se têm são histórias de pobreza, sofrimento e agonia, porque o país do futuro nunca chega.
Jair, meu Jair!, Haddad, meu Haddad!: qual de vocês vai mudar a história e antecipar esse futuro tão esperado.
Haddad é a expressão do partido que usurpou o poder. Bolsonaro não tem história; pode ser o escorpião do sapo traído... É da sua natureza!
Minha torcida é que não estejamos trilhando o caminho que pode nos levar a Autocracia.
Para encerrar, lanço mão de uma pequena fábula atribuída a Esopo, nascido no ano 620 a.C., na Grécia Antiga:
“Surgira uma séria disputa entre o cavalo e o javali; então, o cavalo foi a um caçador e pediu ajuda para se vingar. O caçador concordou, mas disse: “Se deseja derrotar o javali você deve permitir que eu ponha esta peça de ferro entre as suas mandíbulas, para que eu possa guiá-lo com estas rédeas, e que coloque esta sela nas suas costas, para que possa me manter firme enquanto seguimos o inimigo.” O cavalo aceitou as condições e o caçador logo o selou e bridou. Assim, com a ajuda do caçador, o cavalo logo venceu o javali, e então disse: “Agora, desça e retire essas coisas da minha boca e das minhas costas.” “Não tão rápido, amigo”, disse o caçador. “Eu o tenho sob minhas rédeas e esporas, e por enquanto prefiro mantê-lo assim.”“O javali, o cavalo e o caçador”, Fábulas de Esopo
Então? Quem queremos para Presidente?
JM Almeida
João Maurino de Almeida Filho. Bacharel em Ciências Econômicas e Ciências Jurídicas.