Conheço pessoas que possuem olhos, mas por mais que façam esforços, não conseguem ver, nem tampouco enxergar. Muitas destas acreditam, piamente, que veem e enxergam.
Ao se observar como fazem a leitura da realidade e como muitas se posicionam, diante de determinado fato ou até mesmo emudecem, constata-se, notadamente, a limitação do alcance daquilo que, na verdade, apenas achou que se viu, e nem de longe se enxergou.
O tempo, ah o tempo, sábio tempo, quando somado ao desejo colossal de quem, verdadeiramente, quer ver e enxergar, sempre se encarrega de poder ser um grande diferencial no horizonte daqueles que decidem abrir os olhos.
Também conheço pessoas que não tiveram a felicidade de possuir olhos. Mas, por outro lado, mesmo diante desta irreparável ausência, via de regra, chega quase ser uma Lei Universal, veem e enxergam mais do que ninguém.
Poder ver e, verdadeiramente, enxergar a vida, ao meu ver, está, deveras, além de possuir ou fazer uso dos sentidos que temos, para sedimentar as nossas percepções.
Penso que existem duas situações que ocasionam as maiores de todas as cegueiras, quais sejam, a cegueira intelectual e a cegueira moral. Refiro-me, evidentemente, ao excesso de luz ou, na mesma intensidade, ao excesso da escuridão.
A intensidade da luz ou da escuridão são verdadeiros paradigmas e se encarregam de revelar, de forma muito nítida, todos os contrastes.
Quem irradia muita luz, corre o risco de cegar quem é dado a escuridão ou não está acostumado a ver e enxergar a luz, assim como quem recebe os primeiros raios de sol, nas primeiras horas da manhã.
E quem vive na escuridão só pode reproduzir a ausência de luz ao seu redor e levar a efeito cada vez mais escuridão, na direção daqueles que o cercam.
Os únicos antídotos que conheço para combater a cegueira intelectual é a educação e o desejo de quem queira se instruir.
Todavia, é fato, nem a leitura de bibliotecas pode ser antídoto para a cegueira moral, porque esta advém da falta de caráter ou de voláteis princípios e valores, senão, também, da ausência dos mesmos.
A cegueira moral não possui cura.
Vivemos em um mundo conturbado, com raríssimas luzes que possuem luz própria e também, com milhões de luzes de grandeza para além do questionável.
A que ponto chegamos.
A luz passou a ser alvo da inveja, a ponto da escuridão, sorrateiramente, ou tentar apagar quem irradia sua luz própria, ou pedir clemência para diminuir a intensidade de quem ilumina.
Segue a Lei natural, cada vez mais sábia: insetos não atacam lâmpadas apagadas.
Pedro Lagomarcino
Advogado em Porto Alegre (RS)