Faz quatros anos e meio que há uma guerra civil na Síria. Os confrontos começaram em 15 de março de 2011 e não há uma perspectiva de fim, com um balanço humanitário dramático, um regime cada vez mais apegado ao poder e uma comunidade internacional atarantada, especialmente, com as atrocidades do grupo jihadista autodenominado Estado Islâmico (EI)
. Mas o governo “legal” de Bashar al-Assad não é menos atroz. Dados de organismos internacionais militares e de direitos humanos afirmam que mais de 15 mil pessoas foram torturadas e mortas nas prisões —esse número inclui crianças.
Essas organizações internacionais condenam o fracasso dos governos de todo o mundo para encontrar uma solução pra por fim à guerra que, segundo a ong Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), provocou algo em torno de 250.000 mortes —e dizem que esta é uma estimativa conservadora. Além disso, os embates forçaram metade da população síria a abandonar suas casas.
O mundo fracassou com a Síria, uma nação destroçada pela guerra civil sangrenta —o país perdeu mais de 80% de sua energia elétrica desde início dos conflitos, diz relatório; a guerra na Síria provocou mais de 4 milhões de refugiados
, garante outro levantamento. A revolta popular contra o regime ganhou um caráter militar ante a repressão do governo até virar uma guerra civil complexa e sangrenta, na qual se enfrentam tropas leais ao regime, inúmeros grupos rebeldes, forças curdas e organizações jihadistas.
E a diplomacia coleciona fracassos. Após negociações em série e em vão entre o regime e a oposição, demonstrou-se a incapacidade da comunidade internacional para acabar com a violência que alimenta o sentimento de amargura e abandono dos sírios, que enfrentam, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), "a situação mais importante de emergência humanitária de nossa era".
Toda essa barbárie acabou ganhando um símbolo muito forte. Nilufer Demir, fotógrafa turca, estava registrando imagens de um grupo de imigrantes paquistaneses numa praia quando encontrou o corpo sem vida do quase bebe Aylan Kurdi. Demir fez o que qualquer fotógrafo faria: tirou fotos. Sua imagem mais eloquente mostra o garoto sírio de três anos de idade caído, sozinho e com o rosto enterrado na areia. Suas mãos estavam abertas e viradas para cima. "Eu tive que tirar a foto e não hesitei.
A única coisa que eu podia fazer é ter a certeza de que essa tragédia fosse vista". O mundo inteiro viu a foto, que foi transformada num ícone da barbárie que ainda predomina no planeta.
Desde que o ser humano habita o planeta é o senhor da barbárie, que teve altos e baixos ao longo da história do homem na Terra. Depois dessas ondas, a selvageria recrudesceu no mundo durante a maior parte do século 20 e nos quinze primeiros anos do século 21 não há qualquer sinal de que o terror humano terá um fim.
Aylan Kurdi, que ironicamente tem no nome as iniciais de um dos principais símbolos da selvageria, o mortal fuzil AK-47, é hoje um ícone mundial, o que pra ele não faz diferença alguma, já que perdeu a vida na mais tenra infância. Nos resta apenas a imagem da face de bebe sem vida enterrada na areia. Talvez um dia a reflexão que se pode fazer é a de que talvez um dia possamos construir sociedades adequadas a todos os seres humanos.
Talvez o pequenino Aylan seja agora um sinal triste de que um dia a barbárie tenha um fim no planeta. Fizeram da barbárie algo insignificante ao longo do último século. Agora, é preciso que ganhe um significado dolorido na alma humana para que possamos voltar a ser a imagem e semelhança do Todo Poderoso, se ele retomar seu interesse por sua criação —os viventes do planetinha chamado Terra.
Luca Maribondo
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da Redação