Lembro outro dia quando assisti a partes do filme “Impossível” sobre a catástrofe referente ao Tsunami na Tailândia,
o qual narra a jornada quase impossível de uma família sobrevivente que lutou até o fim para se reencontrar e sobreviver -, nada mais instintivo e natural do ser humano.
E esta semana me deparo com uma imagem que me arrebatou tão profundamente quanto a tragédia na Tailândia. A foto de uma criança chamada Aylan Kurdi de 3 anos de idade morta numa praia da Turquia é o
reflexo direto da luta incessante pela sobrevivência de um povo que vive há anos a realidade da guerra, realidade a qual não implica em violência explícita como narrativa de um filme Hollywoodiano com tiros e bombas, mas além: a pobreza extrema, a angústia moral, a fome, o frio, a peste e o medo constante da morte.
Um dos questionamentos feitos por várias pessoas se refere à intensidade da nossa preocupação em relação aos povos refugiados, muito pela negativa de várias nações em recebê-los em seu território, muito pela sensação de “deixar para lá” que nosso silêncio referencia.
E você se compadece deste povo?
Qual a decisão a se tomar em prol dos direitos humanos e da segurança e bem estar nacional? E se como vimos com nossos amigos do Haiti, tivéssemos que abrir as fronteiras para receber os refugiados, será que nós brasileiros seriamos solidários como não o fomos tanto com outros?
Não cabe eu julgar a decisão dos países em não abrir a fronteira, mas tento aqui nos levar a refletir sobre o que andamos fazendo com nosso lar a partir do que fazemos com nossa “alma”.
E por isso eu pergunto: mundo perdeu o rumo?
Bauman e sua teoria da liquidez humana sempre nos coloca diante uma dicotomia difícil de resolver, e o que é bem próximo ao que nos remete Jung -, o avanço no conhecimento sobre a dor e a morte o qual temos na contemporaneidade é estranhamente contrário as relações em que a tecnologia distanciou.
Estranhamente estamos perdendo dia após dia nossa capacidade única de nos sensibilizar, dia a dia o olhar da empatia se esquiva da realidade e nos força a compreender tudo a nossa volta com um ar de normalidade e apatia.
Não conseguimos mais fazer julgamentos que envolvem princípios e valores e nem tão pouco reconhecer o certo e o errado, tudo passou a ser o mesmo princípio e muito relativo ao que envolve claro, aquilo que diretamente nos afeta e de nós, o sentido direto e implícito dos direitos e da vinculação significante apenas aos nossos princípios particulares.
Direitos deveriam ser universais, mas hoje se escondem no ego. A referência egocentrada é o significado arredado a nossa identidade social, o eu perdido e solitário na individualidade, na agressividade e no pedantismo.
É interessante pensar que até mesmo os movimentos que surgem diante determinados fenômenos de comoção instantânea vistos nas mídias sociais principalmente, se sustentam a partir da premissa hoje comum a rede: a viralização da informação ou até melhor, a viralização do senso comum.
A viralização o qual pelo nome indica um “vírus” qual se espalha fatalmente acarretando uma “epidemia” (diante o “consciente coletivo”) acaba nos gerando opiniões muitas vezes compradas e creditadas como sendo próprias, mas que representam apenas o grito como uma onda uniforme de uma única opinião e central da qual não há como discordar levando aos “outsiders” virtuais o ostracismo por sua negativa.
Um grande problema esta aí, quando olhamos apenas em ondas virais não nos damos conta e nem a oportunidade de olhar além do que é comum a todos; é o ser humano robotizado e pragmático a sua tecnologia, e lobotomizador de prósperas idéias, ao fim um gerador de grandes perdas e catástrofes humanas.
É fato que esse “consciente coletivo” fatalmente impulsiona o engajamento cívico, mas é antes o retrato do fracasso da consciência ética. Ora, por quê? E por que não, se não por total ausência do olhar mais crítico de si e do mundo? E de novo: preocupamos-nos mesmo com as necessidades dos outros?
Pergunto pelo simples motivo de que enquanto até mesmo pelo princípio básico da teoria do ciclo de vida de adoção (Everett M. Rogers) nos apoiar por digamos “líderes de opinião” para seguirmos a onda viral, esquecemos que até antes da tragédia do menino Sírio, não tínhamos percebido, ou melhor, havíamos normalizado a tragédia humanitária que se segue há tempos no Oriente Médio, isso sem citar a África, Ásia e por que não a América Latina e Caribe.
E de novo: o mundo perdeu o rumo? E a pergunta não é dirigida a barbárie em si ou a qualquer catástrofe natural que presenciamos, mas sim a nossa falta de sensibilidade latente. Estou eu e você leitor perdidos num mar de esquecimentos e afogados em nossas próprias vidas ao ponto tal de nada mais ter valor se não o que apenas se reflete no espelho quando nos olhamos: o eu? Seríamos o mais puros dos egoístas?
Robson Belo
Psicólogo, Psicopatologista e Psicoterapeuta
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Robson Belo
Psicólogo