Chamem-me “Intervencionista”. Assim como o “Ismael”, de Hermann Melville, lançava-se ao mar para “não acompanhar enterros de desconhecidos” eu me jogo às letras invocando a derrubada do Governo Civil.
Ismael salvou-se agarrado a um caixão. Meu caixão é o Estado Brasileiro num país em que as pessoas não tem a menor ideia da diferença que possa existir entre Estado e Democracia, Governo e Poder, ou entre Vida Política e Vida Partidária.
Convoco, mesmo sabendo impossível, o Golpe de Estado num país onde até poderia haver Golpe, uma vez que existisse Estado - não esse caixão em que me agarro e escrevo.
Escrevo com a vida profissional em frangalhos, a Medicina no fundo do poço e o Brasil parado.
Ao meu redor, o velho "Estamento Burocrático" de Raymundo Faoro, agora inchado por candidatos oriundos da Caserna nas eleições de outubro, desespera-se com quem me apoia.
Escrevo enquanto políticos invejam a força dos militares e os militares buscam a legitimidade dos políticos. Coitados: pensam que o Poder vem junto com o Governo!
Não tem a mínima ideia do que seja algo chamado “consenso”, que este não se produz nem pelo dinheiro nem pela força ou que sem ele ninguém jamais governou nada em lugar algum.
Deus me livre de romper com o processo democrático, berram aqueles que de mim discordam – faltam só cinco meses e a mudança há de ser feita em outubro por ocasião da “festa da Democracia” como querem os comentaristas da Rede Globo.
Temos Bolsonaro, Mourão e tantos outros! Intervenção agora de jeito nenhum! Isso só serve ao PT – não interessa se as urnas são da Smartmatic, se o voto é obrigatório e sem comprovante impresso, se a população está desarmada...Não interessam os trinta ministérios, as mordomias, os cartões corporativos, a Constituição Comunista e os ministros do STF.
Tudo isso é “Democracia” e só “democraticamente pode ser mudado.”
Os que me diagnosticam como louco, os que me querem preso por meu discurso, tem mais medo de uma “Ditadura do General Mourão” do que uma eleição envolvendo Lula e Fernandinho Beira-mar!
A medida da Democracia, dizem meus juízes (e entre eles está o Alto Comando das Forças Armadas), é o voto popular nas eleições – não interessa quem concorre!
As eleições são a “única saída” e, como disse a Ministra Cármen Lúcia, “fora da Política não há Salvação.” Que ironia: eu pensava que a Salvação estava na Justiça; não na Política!
Enquanto escrevo, unem-se a imprensa petista e a libertária nas denúncias contra a paralisação dos caminhoneiros: centenas de pacientes estão sem hemodiálise, galinhas estão “se canibalizando”, falta merenda escolar para crianças, transplantes de órgãos foram cancelados! Urge que o Brasil volte à “vida normal”.
Sim: que o Brasil volte àquela vida em que políticos roubam o dinheiro para merenda escolar, em que as pessoas morrem de pneumonia dentro de UPAS imundas aguardando leitos hospitalares, àquela vida em que as crianças têm aula dentro de containers e os policiais empurram viaturas quebradas enquanto pacientes do SUS são atendidos por falsos médicos!
Quero meu Brasil das Refinarias Americanas Enferrujadas e dos apartamentos com malas de dinheiro funcionando “normalmente” outra vez!
Que barbaridade falar em “Intervenção” - eu exijo meu Brasil de volta à “vida normal” - quero tiroteios na Rocinha, agências bancárias explodidas no Rio Grande do Sul e crianças mortas por balas de fuzil, mas quero, acima de tudo, o MEU tanque de gasolina cheio!
Tudo para Democracia, nada contra Democracia, nada fora da Democracia, não é mesmo, Benito Tupiniquim?? É...e o “fascista” sou eu, né Márcia Tiburi?
O que importa agora é saber quem “está por trás” do Movimento dos Caminhoneiros. Quem são eles? Intervencionistas? Gente do Bolsonaro? São petistas que querem a liberdade de Lula ou empresários de transportes ávidos por maiores lucros??
São monarquistas, gente do Partido NOVO ou radicais islâmicos?? São budistas, satanistas ou é tudo um complô dos caminhoneiros evangélicos?
Folgo em saber do desespero da mídia brasileira comunista, dos liberalóides do Partido NOVO e dos militares que querem entrar para Política: eles não conseguem, por mais esforço que façam, entender o que se passa no país - e os que entendem se recusam a aceitar, já que aceitar é uma “ameaça à Democracia”.
A “culpa” pelo que está acontecendo é agora dos “infiltrados” - esse é o “novo olhar” que se faz necessário sobre o caos que se instalou no país. Os culpados são proprietários de caminhõezinhos que pedem “Lula Livre” ou donos de empresas de transporte que tramam em segredo, junto comigo, um Golpe Militar “contra a Democracia”.
Não interessa se a PETROBRAS foi destruída e Dilma ri de nós, se o Presidente da República não renuncia porque tem medo de ser preso, ou se a Organização Criminosa dentro do Congresso não aprova aumento de imposto para compensar a queda no preço do diesel porque tem medo de não se reeleger em outubro - o importante é saber “quem está por trás” disso tudo, resolver a situação toda, encher o tanque de gasolina e voltar para “vida normal” - “Paraíso da Democracia” em que ninguém pede “Intervenção Militar” ou “Lula Livre.”
Os políticos brasileiros não querem reconhecer o caos, os militares não querem se envolver com ele e a população (que sempre esteve nele e não se deu conta) só quer que “tudo volte ao normal outra vez”.
Provem-me, uma única vez, que o “Brasil vive numa Democracia” e rasgo tudo isso que escrevi.
Enquanto não me provarem, permaneço como Ismael agarrado no caixão que chamo de “Estado” ...Até que um dia um navio apareça, me recolha e me leve para bem longe deste inferno da "Democracia” que vocês continuam a defender no Brasil.
Milton Pires
Médico cardiologista em Porto Alegre