Perplexo, Moro explica a fundamentação das prisões
04/08/2015 às 05:56 Ler na área do assinanteUm tenebroso quadro de corrupção sistêmica, é a avaliação do juiz federal Sergio Moro sobre as investigações da Operação Lava Jato e a constatação do esquema de propinas que se espalhou de forma avassaladora por diretorias estratégicas da Petrobrás e outras estatais.
Ajustes fraudulentos para obtenção de contratos públicos e o pagamento de propinas a agentes públicos, bem como o recebimento delas por estes, passaram a ser pagas como rotina e encaradas pelos participantes como a regra do jogo.
"Algo natural e não anormal', anota Moro, perplexo ante o alcance do esquema de propinas, fraudes e corrupção.
O juiz ainda observa que 'nem mesmo a notoriedade das investigações da Operação Lava Jato, com prisões cautelares de dirigentes da Petrobrás e das empreiteiras envolvidas, parece ter sido suficiente para frear o impulso criminoso'.
As investigações demonstram que mesmo com o avanço dos trabalhos, com a prisão de envolvidos, o esquema em momento algum parou de funcionar.
A própria JD, empresa de consultoria de José Dirceu, tem comprovado o recebimento de propina até outubro de 2014.
"Em um contexto de criminalidade desenvolvida de forma habitual, profissional e sofisticada, não há como não reconhecer a presença de risco à ordem pública, a justificar a prisão preventiva para interromper o ciclo delitivo", advertiu Sérgio Moro. "Embora as prisões cautelares decretadas no âmbito da Operação Lava Jato recebam pontualmente críticas, o fato é que, se a corrupção é sistêmica e profunda, impõe-se a prisão preventiva para debelá-la, sob pena de agravamento progressivo do quadro criminoso. Se os custos do enfrentamento hoje são grandes, certamente serão maiores no futuro."
Para o juiz da Lava Jato, 'impor a prisão preventiva em um quadro de fraudes a licitações, corrupção e lavagem sistêmica é aplicação ortodoxa da lei processual penal (artigo 312 do Código de Processo Penal)'.
"Excepcional no presente caso não é a prisão cautelar, mas o grau de deterioração da coisa pública revelada pelo processo, com prejuízos já assumidos de cerca de seis bilhões de reais somente pela Petrobrás e a possibilidade, segundo investigações em curso no Supremo Tribunal Federal, de que os desvios tenham sido utilizados para pagamento de propina a dezenas de parlamentares. Tudo isso a reclamar, infelizmente, um remédio amargo (ordem de prisão)."
Moro transcreve trecho de decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Newton Trisotto - desembargador convocado - sobre a Lava Jato. "Nos últimos vinte anos, nenhum fato relacionado à corrupção e à improbidade administrativa, nem mesmo o famigerado "mensalão", causou tanta indignação, tanta "repercussão danosa e prejudicial ao meio social, quanto estes sob investigação na operação "Lava Jato" - investigação que a cada dia revela novos escândalos."
O magistrado afirma que a ordem de prisão de Dirceu e dos outros alvos da Pixuleco não é uma 'antecipação de pena'. "Necessária a prisão preventiva para proteção da ordem pública, em vista da gravidade em concreto dos crimes em apuração e da necessidade de prevenir a sua reiteração, já que o esquema criminoso sequer se restringiu à Petrobrás", adverte.
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